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16 de julho de 2010

AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR



POR UMA ECONOMIA QUE COLOQUE
AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR

Marcus Eduardo de Oliveira (*)

Para aqueles que labutam no desejo em ver construída uma economia com uma face mais social e humana, voltada a atender as necessidades das camadas populares mais necessitadas, um primeiro ponto de ruptura, para que isso de fato se suceda, deve ser buscado urgentemente. É imprescindível, nesse pormenor, que se rompa com a idéia dominante – e fortemente presente - da estatística voltada unicamente na obtenção cega de elevadas taxas de crescimento econômico, como se uma vez alcançada essas taxas, todos os problemas sociais prontamente estarão resolvidos.
A tradição da teoria econômica, desde a obra seminal de Adam Smith, publicada em março de 1776, tem sido manifestada largamente nos livros-texto insistindo grosseiramente que o crescimento econômico é a receita infalível para o progresso geral.
Em síntese, essa recomendação “técnica” atesta que basta viver sobre uma economia em larga margem de crescimento que as oportunidades sociais logo serão estendidas a todos; e as necessidades básicas de cada um, por conseqüência, serão plenamente satisfeitas. Para tanto, a economia tradicional insiste em concentrar esforços na busca desse crescimento, ignorando, por exemplo, que pelo meio do caminho haverá ocorrências de passivos ambientais advindos de um crescimento agressivo em termos de utilização dos limitados e finitos recursos naturais. Por sinal, nesse sentido, a tradição econômica enxerga o oposto: trata a atividade econômica como se essa não necessitasse de novas entradas de energia e matéria, e como se fosse possível expandir a produção ininterruptamente, a bel-prazer das forças mercadológicas.
A matemática desse crescimento econômico a qualquer custo - é importante frisar tal fato - tem se comportado de maneira torpe em termos de análises dos fatos colaterais. Nesse modelo que procura favorecer a expansão econômica a qualquer monta, o que importa é crescer; assim recomenda com veemência a economia tradicional que entende crescimento como sinônimo de progresso, e confunde consumo conspícuo com felicidade e bem-estar.
Por outro lado, é importante ressaltar que o ponto central de uma economia que faça a reversão desse modelo em direção a uma estruturação mais humana e menos tecnicista da atividade econômica, que seja mais social e menos mecânica e rebarbativa, diferentemente, portanto, da tradicional economia, está em usar as técnicas e modelos econômicos de maneira a atender satisfatoriamente as necessidades dos menos privilegiados, ou seja, daqueles milhões de seres humanos que se encontram “excluídos da economia mundial”, nos dizeres do Nobel Amartya Sen.
Nesse sentido, o eixo dessa “nova economia” (se assim abusarmos desse chavão) com características mais solidária e humana consiste em colocar as pessoas em primeiro lugar. O que importa prioritariamente para nós que defendemos essa linha de raciocínio são as pessoas e suas necessidades elementares, e não o mercado e suas mercadorias. O foco desse modelo diferenciado de fazer economia está na cooperação (que soma e inclui), e não na competição (que divide e exclui). Lembremos que a ciência econômica é feita pelos homens e para os homens.
Destarte, para os que estão comprometidos com essa mudança em prol de uma economia mais justa e fraterna, crescimento econômico deve ser visto tecnicamente em termos quantitativos, enquanto desenvolvimento necessariamente deve ponderar a favor dos termos qualitativos, incluindo, evidentemente, a possibilidade de se atingir bem-estar. Dessa forma, desenvolvimento econômico, no dicionário técnico significa, grosso modo, a capacidade de descobrirmos o que de fato podemos fazer e ser. Alcançada tal condição, certamente passaremos a dar um valor diferenciado à vida.
Assim, nos parece que aceitar essa última premissa como verdade e, antes, fazer disso um ideal de luta, é se colocar afirmativamente ao lado daqueles que tanto necessitam de ajuda: os “excluídos da economia mundial” cujas cifras são cada vez mais assustadoras em escala mundial: 1 bilhão de estômagos vazios; 1,5 bilhão de pessoas sem acesso à água potável; 19 crianças com menos de 5 anos de idade mortas a cada cinco minutos de pneumonia; 500 mil mães morrendo a cada ano na hora do parto devido a assistência médica insuficiente; 5 milhões de crianças que a cada ano não completam 5 anos de vida.
Ademais, é imperioso reforçar que a economia (ciência e atividade produtiva) tem todas as condições de fazer avançar um programa de recuperação social, desde que, é claro, se rompa, abruptamente, com o pragmatismo dominante da tradicional economia que insiste em medir a realidade social por números e valores monetários, como se a “vida econômica” se resumisse a uma mera questão matemática. É urgente, pois, mudar-se o eixo da economia e, definitivamente, firmar políticas públicas que coloquem as pessoas em primeiro lugar; afinal, a ciência econômica desde seu surgimento nasceu para dar uma resposta positiva à vida de todos nós.

(*) Economista, com mestrado pela USP e especialização em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP). É professor titular do Depto. de Economia da FAC-FITO e do UNIFIEO (Osasco, SP).
É membro do GECEU – Grupo de Estudos em Comércio Exterior do UNIFIEO.
Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

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