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16 de julho de 2010

AFINAL, QUAL É A PRIORIDADE DA ECONOMIA?



AFINAL, QUAL É A PRIORIDADE DA ECONOMIA?
Marcus Eduardo de Oliveira (*)


Coube inicialmente aos clássicos ingleses, a partir do final do século XVIII, fazer do estudo da economia uma disciplina e dar a essa uma essência de ciência. O fundamento principal das primeiras preocupações desses estudiosos foi um só: determinar as causas do “progresso das nações”, para tomarmos a expressão usada pelo maior líder dessa corrente de pensamento, o escocês Adam Smith.
No decorrer do tempo, as preocupações subjacentes, bem como os legados teóricos deixados por outros nomes de relevância dessa “escola de pensamento”, dentre eles, Ricardo, Malthus, Benthan, Stuart Mill e mesmo Karl Marx, foram diversificando-se para ganhar corpo sistemático, contribuindo, assim, para fazer da economia uma disciplina “preocupada” com a realidade sócio-econômico dos povos.
Nessa linha de raciocínio, muitas foram às abordagens que passaram a ocupar certa proeminência, entre essas cabe citar: a preocupação com excesso populacional, a renda da terra, o valor do trabalho, os rendimentos decrescentes, os princípios das vantagens absoluta e comparativa, e a possibilidade de se ajudar ou não os mais pobres, contribuíram, sobremaneira, para que as ciências econômicas se tornassem uma disciplina de ordem tipicamente humana. Nada, portanto, tendo em comum – até o aparecimento da Revolução Marginalista – com as questões que envolviam análises voltadas à matemática e a valores dos bens em torno do fator subjetivo da utilidade.
Foi, pois, a partir da chegada independente (um não conhecia o trabalho do outro) dos marginalistas – Walras, Menger e Jevons – que os aspectos quantitativos passaram a apresentar certa proeminência em termos de análises econômicas.
No entanto, não nos prenderemos aqui a discorrer especificamente sobre a evolução que houve em torno do pensamento econômico - dos marginalistas à economia neoclássica - por julgarmos que há a esse respeito vasta literatura. Todavia, desejamos apenas pontuar uma questão que nos parece ser muito relevante: afinal, qual é a prioridade da economia? É olhar as múltiplas questões pelas lentes “quantitativas” expressas em números, cifras, indicadores e valores diversos ou pela ótica “qualitativa” que engloba mensurar o grau de satisfação das pessoas, chegando aos ditames que cerca a idéia do bem-estar social?
Lançar-se na “aventura” de tentar responder essa indagação crucial é certamente abraçar fatos históricos que marcam o pensamento econômico. Ademais, tal procedimento leva à possibilidade concreta de ferir determinados postulados que ainda hoje resiste às duras penas. Um desses postulados, por exemplo, atesta que a finalidade ímpar da economia é criar condições para que as nações avancem; ou se preferirmos adotar o linguajar técnico-mecanicista, a palavra mais correta a ser empregada nesse caso seria “crescimento”. Aqui a idéia que fica é fazer a economia crescer, custe o que custar.
Pois bem. Dessa contextualização, muitas foram às idéias lançadas para se “descobrir” então os mais fáceis e transitáveis caminhos que levam ao dito e propagado “crescimento”. Nesse pormenor, o convencionalismo econômico, desde os clássicos ingleses, fortemente enraizado em momentos posteriores na economia neoclássica tradicional, recomenda que basta acumular capitais, propor uma adequada divisão do trabalho e especializar a mão-de-obra que a geração de riqueza se aproxima.
Outros, no entanto, além de recomendarem a acumulação de capitais (largamente entendido como sendo um dos fatores determinantes do crescimento), vão se sintonizar nos aspectos que envolvem obter produtividade, além de fazer uso dos fatores tecnológicos para que assim, o progresso, de fato, aconteça. Resumindo esse ponto: o objetivo (a finalidade, pois) da economia, ao menos para os teóricos que se apóiam nos postulados neoclássicos continua sendo atingir elevadas taxas de crescimento; independente de quais caminhos se escolha para isso. Esses sofrem de uma patologia crônica: “a síndrome do crescimento”.
Conquanto, em extremo oposto, há aqueles que olham a economia pelas lentes do espectro puramente social e, por isso, não se esquecem das origens dessa ciência tipicamente humana, que esteve voltada, em momentos iniciais, na preocupação em medir e captar a realidade social. Esses certamente conseguem dar outra resposta à pergunta acima lançada.
É forçoso então reafirmar que para esses a real e significativa finalidade das ciências econômicas, no trato específico para com as pessoas, reside em atender as necessidades básicas dos pobres de todo o mundo. Essa seria, pois, a finalidade ímpar de uma ciência social: promover a ascensão das pessoas desfavorecidas, superando toda e qualquer injustiça que permeia o dia a dia daqueles que estão numa posição inferior na escala de acessos aos bens e serviços “oferecidos” pela atividade econômica.
A ciência econômica dispõe de “argumentos” plausíveis para fazer essa espécie de “revolução social” em prol daqueles que sofrem as constantes injustiças. É sabido que toda revolução social empreendida pelos que estão na parte de baixo carrega em si um caráter de universalidade, até mesmo porque constitui um protesto legítimo do homem contra a qualidade de vida que para muitos chega a ser inumana. Assim como nenhum deserto é tão árido e tão longo que não possa ser transposto, a economia é uma ciência que não pode ficar restrita aos laboratórios acadêmicos, trancafiada em gabinetes públicos. Essa ciência – feita pelos homens e para os homens - precisa ser posta ao serviço das pessoas, auxiliando-as na tomada de decisão em prol do benefício mútuo.


(*) Economista brasileiro, é especialista em Política Internacional.
Autor dos livros “Conversando sobre Economia”, “Pensando como um Economista” e “Provocações Econômicas” (no prelo). Os artigos desse autor em torno de questões econômicas têm sido amplamente publicados no Brasil e no exterior, com destaque em Portugal, Cabo Verde e Angola, além de Rússia, Espanha, México e Equador.
Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

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