Bem-vindo ao Blog do Prof. Marcus Eduardo de Oliveira

Aguardamos e contamos com a sua participação.















27 de julho de 2010

O OUTRO NOME DA FRATERNIDADE

Desenvolvimento Regional Sustentável: ARTIGO - Economia da Comunhão: "A Economia da Comunhão: o outro nome da Fraternidade, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira O distanciamento entre as pessoas, a agressão ao ..."

AINDA SOMOS MUITO DESIGUAIS

Ainda somos muito desiguais
Nosso artigo "AINDA SOMOS MUITO DESIGUAIS" foi publicado pelo site "O Economista". Trata-se de uma reflexão sobre o último informe da ONU-Pnud que coloca o Brasil na nona posição entre os mais desiguais na América Latina.

26 de julho de 2010

ARTIGO PUBLICADO NA ROMÊNIA



Nosso artigo "TALKING ABOUT ECONOMY" foi publicado na Romênia, pelo Gandeste, em 24/07/2010.
Acompanhe a publicação pelo link abaixo.

http://gandeste.org/general/talking-about-economy/12213

25 de julho de 2010

O Progresso na Economia não está em aumentar a Riqueza, mas em diminuir a Pobreza

Mundo Lusíada Online: Artigos - O Progresso na Economia não está em aumentar a Riqueza, mas em diminuir a Pobreza

Artigo de Marcus Eduardo de Oliveira publicado pelo JORNAL MUNDO LUSÍADA

AINDA SOMOS MUITO DESIGUAIS




Artigo comentando o último informe do Pnud-ONU que coloca o Brasil na nona posição no ranking dos países com mais desigualdade da América Latina.


AINDA SOMOS MUITO DESIGUAIS
Marcus Eduardo de Oliveira (*)


O fator desigualdade no desenvolvimento humano continua a ser a pedra no sapato dos brasileiros. Entre os países da América Latina, estamos na nona posição no ranking que mede essa desigualdade. Esse é o resultado do último estudo divulgado pela ONU-Pnud, com base em dados de 2006.
O IDH-D (Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à Desigualdade) que considera a renda per capita domiciliar; a taxa de alfabetização e os anos de estudos das pessoas de 7 anos ou mais e, o acesso a água potável e adequadas condições de higiene, destacando-se o acesso a banheiro nos domicílios, mostram o Brasil com um índice de 0,629, portanto, na condição de país de desenvolvimento médio (de 0,500 a 0,800).
Numa escala de 0 a 1, o IDH-D aponta que quanto mais próximo de 1, como são os casos de Argentina (0,842) e Uruguai (0,834), melhor é a situação, com pouca desigualdade nos quesitos estudados. No outro extremo, quanto mais próximo de zero, pior é a condição social, como são os casos de Honduras (0,382) e Nicarágua (0,288).
Pois bem. Diante desses dados uma questão se impõe como pertinente: o crescimento econômico em si não resolve a questão da desigualdade social. Crescer economicamente não significa (e nunca significou) que a vida das pessoas mais necessitadas irá melhorar, embora seja o crescimento da economia um fator benéfico no conjunto das opções a favor da busca de bem-estar. Lembremos, nesse pormenor, que de 1870 a 1980, o PIB brasileiro cresceu mais de 150 vezes; no entanto, nesse mesmo período de tempo, excluídos os contratempos e sobressaltos políticos e econômicos, a vida dos brasileiros, em termos de melhoria substancial na qualidade de vida, não acompanhou esse forte crescimento do produto.
Ademais, ainda que a renda per capita dos brasileiros mais pobres, de 2000 a 2008, tenha crescido 72%, o IDH-D nos coloca na incômoda posição de sermos muito desiguais, o que ressalta, grosso modo, a relação conflituosa entre os campos econômico e social, contribuindo para a latente desigualdade. E somos desiguais basicamente pela deficiência de ajustar o crescimento da economia em termos de distribuição equitativa da renda, e de nos negarmos a enfrentar o desafio de conjugar mercado e virtudes civis, visando construir uma economia com eficiência, de característica tipicamente solidária.
Continuamos desiguais pois não aproveitamos a potencialidade econômica de um país dono da quinta maior extensão territorial do mundo em favor de um programa de produção de alimentos para o consumo doméstico; ao contrário: preferimos adoçar a boca dos estrangeiros com a exportação de alimentos e vitaminas. Continuamos desiguais pois não criamos ainda uma cultura de subordinar a economia aos objetivos sociais. Continuamos desiguais pois, depois de mais de 500 anos de história econômica e política, ainda temos políticas econômicas desenhadas apenas para fazer a riqueza subir, e não para fazer a pobreza se reduzir a zero, entendendo que a pobreza um dia acabará enquanto a riqueza está aumentando. É por isso que ainda somos um país paradoxal: um país rico com uma triste e dramática pobreza vinculada a um elevado grau de desigualdade.
Definitivamente, só vamos diminuir essa desigualdade e eliminar os focos de pobreza quando a economia for direcionada para produzir tudo aquilo que elimina o estado de pobreza, ou seja, escola pública de qualidade, saúde pública confiável, saneamento básico, água potável, cultivar a terra e eliminar o latifúndio, coletar o lixo das ruas, e permitir com que cada brasileiro carente tenha possibilidade de comprar arroz, feijão e o bife para o fim de semana.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO. Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP).
http://blogdoprofmarcuseduardo.blogspot.com
prof.marcuseduardo@bol.com.br

23 de julho de 2010

HACER UN MUNDO MEJOR



(MÉXICO) Artigo - HACER UN MUNDO MEJOR - publicado no México, pela Revista Mensual Globalización, Economía, Sociedad y Cultura.

http://rcci.net/globalizacion/2010/fg1021.htm

A BETTER WORLD FOR ALL

Uma reflexão do prof. Marcus Eduardo de Oliveira.
POR UM MUNDO MELHOR PARA TODOS.


ECONOMIA SOCIAL E HUMANA Uma economia para a vida e para as pessoas: A BETTER WORLD FOR ALL: "A BETTER WORLD FOR ALL by Marcus Eduardo de Oliveira (*) Nearly 830 million people in the world are living in misery and 7 million children..."

Mundo Lusíada Online: Artigos - O Progresso na Economia não está em aumentar a Riqueza, mas em diminuir a Pobreza

Mundo Lusíada Online: Artigos - O Progresso na Economia não está em aumentar a Riqueza, mas em diminuir a Pobreza

Artigo do prof. Marcus Eduardo de Oliveira publicado no jornal Mundo Lusíada.

ECONOMIA SOLIDÁRIA - Vamos divulgar essa idéia



ECONOMIA SOLIDÁRIA: Vamos divulgar essa idéia!
Marcus Eduardo de Oliveira
(Professor da FAC-FITO e do UNIFIEO)


Em tempos de mundo globalizado onde as informações se disseminam numa velocidade assustadora, ganha cada vez mais espaço a discussão em torno da prática de um modelo de economia solidária. Em que consiste, afinal, o princípio dessa chamada economia solidária?

Tendo por base a “Carta de Princípios”, elaborada no Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) a “Economia Solidária constitui-se no fundamento de uma globalização humanizadora; de um desenvolvimento sustentável; socialmente justo e voltado para a satisfação racional das necessidades de cada um e de todos os cidadãos da Terra, seguindo um caminho intergeracional de desenvolvimento sustentável na qualidade de vida”.

Os princípios gerais da economia solidária são:

-A valorização social do trabalho humano;

-O reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia fundada na solidariedade;

-A busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza, e os valores da cooperação e da solidariedade, um caminho que valoriza os seres humanos, independente da sua cor de pele, sexo, idade, orientação sexual, condição econômica ou cultural.

Talvez esteja começando uma nova maneira de ver, sentir e fazer Economia em que o indivíduo seja o foco principal; longe, portanto, da frieza dos números e dos índices que marcam a economia de mercado.

Se grande parte de nós nos envolvermos na solidariedade (ajuda mútua), abraçando as causas da economia solidária em toda sua amplitude, talvez possamos forçar as mudanças econômicas tão almejadas. Se essas mudanças, de fato, acontecerem e se os governos desenvolvidos perceberem nisso uma possibilidade de espalhar o tão almejado desenvolvimento econômico para todos, os ganhos, certamente, virão. Esses ganhos serão coletivos, contrariando assim a prática econômica que recomenda o individualismo.

VAMOS DIVULGAR ESSA IDÉIA.
No link abaixo, uma pequena apresentação disponível na rede youtube.

22 de julho de 2010

A economia nada é sem um projeto de vida

Um texto de Marcus Eduardo de Oliveira, publicado em Pernambuco.
A economia nada é sem um projeto de vida

LONGE DA EDUCAÇÃO



Para nossa vã reflexão:

Around the world, an estimated 855 million people, or one sixth of the world's population is illiterate. Millions of children never go to school. About 150 million, predominantly girls, are forced to drop out of school before they have achieved basic literacy and numeracy skills usually because their family is too poor to keep them in school. Education has been enshrined as a fundamental human right, essential for human dignity, but it is widely denied around the world. For many people, education remains a privilege rather than a right. The poor are excluded because they cannot pay. Yet without education, the poor will never escape poverty.
Prof. Marcus Eduardo de Oliveira

Pobreza e Desigualdade - apenas para reflexão

Apenas para reflexão:
La pobreza ni es un fenómeno natural ni es inevitable, sino una injusticia que está alimentada por las violaciones a los derechos humanos. La actual crisis económica mundial ha puesto de manifiesto cómo los políticos y sus políticas públicas erróneas agravan la pobreza, la desigualdad y las privaciones.
Prof. Marcus Eduardo de Oliveira

Entrevista: Marcus Eduardo de Oliveira fala sobre um novo modo de pensar a economia

Entrevista: Marcus Eduardo de Oliveira fala sobre um novo modo de pensar a economia

19 de julho de 2010

LA VIDA ES EL VALOR CENTRAL

elmercuriodigital.es

"LA VIDA ES EL VALOR CENTRAL", artigo do prof. Marcus Eduardo de Oliveira, publicado em Madri, Espanha, pelo El Mercurio Digital.

CAPE VERDE - EUROPEAN UNION: BRIEF COMMENTS ON SPECIAL PARTNERSHIP



CAPE VERDE - EUROPEAN UNION:
Brief Comments on Special Partnership
May 19, 2010
By: Marcus Eduardo de Oliveira (*)


Strengthen mechanisms related to poverty reduction without losing sight of the ultimate objective is to ensure the full development, extended to all Cape Verdeans.
At the core of the Special Partnership established between Cape Verde and the European Union, this feeling fit as a unique opportunity and become plausible, doing justice to the European Union's motto: "United in Diversity." This is, without doubt, today, the biggest advantage to Cape Verde since the first signs of a rapprochement with the European Union began to be suggested. There is room for the Cape Verdean economy will advance socio-economic development programs? Clearly, yes. The numbers answer this question: the last 30 or 35 years, Cape Verde has multiplied per capita income by 10. Private investment (domestic and external), especially in tourism - a strong generator of jobs and income anywhere in the world - has been broadly responsible for the development that made the economy grow at rates above 7%.
However, it is still necessary to overcome barriers that prevent, above all, an economy like that of Cape Verde to move into other directions. One such obstacle is to increase the still small and fragmented domestic market; other obstacles that become relevant in a more rigorous analysis point to the urgent need to create adequate infrastructure, causing lower costs of inputs. That's what the Special Partnership must be implemented, in addition, of course, to strengthen the ground already thoroughly discussed this partnership, such as good governance, fight against poverty, pursuit of development, transformation of society and promote safety and stability in all its hues.
Partnership, in our view, involves a larger sense that includes opening up the world in order to consolidate a dynamic production system based on human capital ratio and the use of the technology factor. In this sense, the greater desire to Cape Verde and its people, in particular, is to build a new stage in the institutional frameworks, to achieve soon, a better future, there is no doubt that it implies the transformation. Along with this transformation is therefore innovation. Why not include in this new phase of innovation partners who are imbued with special help in Cape Verde as a nation to achieve that desire? In detail, perhaps there is none better than the European Union to be that partner.
Within the established international politics since the emergence of the United Nations, of multilateral organizations and agencies, the success of partnerships between different societies past only confirms that Cape Verde, to establish ties with Europe, is on track. This Special Partnership, however, should be seen as a real tool to support the aspirations of Cape Verde to achieve a brighter future for all its people. Thus, it is perfectly possible - and Desirable - tune the economic systems of both societies. We believe, however, that this success occurs, be of critical importance to create conditions for greater economic openness able to involve the easy movement of capital between Cape Verde and the Euro Zone. Although, it is the Cape Verdean authorities to promote something else, and here we believe it to be missing in the debates surrounding this partnership: it is necessary to shift the focus to the economy that no longer only be established under the auspices of the exchange of goods but there is constant exchange of knowledge, establishing thus a new way of "doing economics". This new way is the "knowledge economy" that may well dictate the basis of this promising future awaited in Cape Verde since the case that led to independence in 1975.
This "new economy", it is essential to state, has been "drawn" from its main lines coming from the theoretical contributions of the neoclassical school that encompasses the enhancement of human action and, before that, the development of human capital, pointing out only for question of "know, do" (in the sense of competence and technical procedure), ie, enhancing therefore the factor called "knowledge." Such an assumption, in essence, is replicable in the zero-cost and in unlimited quantities. One thing is to offer goods and another, quite different, is to offer knowledge. By offering only "goods" who makes the good stuff runs out, whereas when you offer knowledge no one loses, both (suppliers and demanders) win, because nobody gets nothing, on the contrary: knowledge becomes reproducible , all of which are replaced by "knowledge" only tends to go accumulated "earnings."
This "know" basis for this new economy stuck in the pillars of "knowledge", is transmitted indefinitely and is not therefore an exclusive privacy. Without doubt, this has been a powerful ingredient of this situation that, in Brazil, we are calling virtual economy, whose good and illustrative examples are the cultural industry, advertising (in all its dimensions including design and marketing innovation), marketing and computer science. The question remains: why not enter Cape Verde, through this partnership with the European Union, this dynamic new economic course of action?
In this criterion it must be emphasized that, somehow, not be subject to measurement, this "new economy" brings down the fundamental concepts of the old political economy, namely: labor, capital value and all measurable. In practice, it is important to stress that argument, what we are discussing here is the exchange of an economic model that is strongly focused on quantitative values, a new way of looking at economic activity through the lens of the qualitative factor. Definitely understand that growth is synonymous with quantity, while developing what really matters, is synonymous with quality. And development is the way to go to Cape Verde. Yet about these new changes in the economy, Alvin Toffler, one of the most respected modern thinkers, argues that a revolution is happening - the deepest since the Industrial Revolution in terms of thinking economy. Increasingly, Toffler said "wealth is based on knowledge, not in the classical factors of land, labor and capital (inputs) always wanted as traditional economic theory. For our part, it should be noted that, arguably, these days, "knowledge" can be regarded as the main (not only) productive force.
However, that this procedure is adopted on a large scale in Cape Verde using the European standards that can be earned from the "partnership" is necessary, however, that the university has a greater involvement in public policy, after all, the Special Partnership involves strengthening political dialogue and economic convergence between the parties, and why not include in this list the academic community?
Cape Verde, from the University of Cape Verde Universidade Jean Piaget, the Group of Lusophone Humanities, and other centers of excellence in knowledge and information dissemination, the pieces may be indispensable in this process.
Finally, it is important to reiterate that the archipelago of Cape Verde has all the conditions for advancing this new economy, even as it is a country that no longer belongs to the group of less developed states."

(*) Brazilian economist. He specializes in International Politics.
Contact: @ prof.marcuseduardo bol.com.br

HOW TO BUILD A MORE JUST ECONOMY?

How to Build a More Just Economy?
Cimar Prieto Alejandro Aparicio (*)
Marcus Eduardo de Oliveira (**)


Undoubtedly, everyone wants to live in a better world, preferably with opportunities for social mobility, with good jobs, access to income and ability to enjoy a feeling of well-being. However, it is always good to ask: how is this achieved? To put it another way: how to build this desirable "other world," with more justice and less inequality?
The construction of this "other world" is undoubtedly the economic system that is established, primarily in an attempt to drive economic activity to fruition. The economy (science and activity) in a general sense, has this "power" to enhance or hinder considerably the lives of many people. This is why it is necessary to establish an economic system that includes coverage around the preoccupation with social issues. Therefore, one should not lose sight that the economy is, in practice, an inexact human science.
The undisputed fact is that modern economics can no longer be thought of without the inclusion of the social sphere. It is essential to consider a comprehensive social theory that is able to include the different actors of socio-economic development. It is also of fundamental importance to think about development without ignoring ecological problems.
It is easily verified that inequality in a country like Brazil, given its level of wealth and economic growth, is unacceptable. There was a recent improvement in income distribution, but our society housed nearly 50 million people in poverty in 2008, according to a study by IPEA, that is those people who lived in families with a per capita monthly income below R $190,00.
In addition, there are still millions of poor that are subject to starvation, although Brazil is the fifth largest country in territorial extension, with more than 670 million arable hectares. And the issue of hunger continues to be treated with palliative measures. This is a nation with an industrial edge exporting airplanes and shoes, but keeps millions of people walking barefoot. It can be seen clearly that the economic system is at least unfair.
To end this injustice, it is necessary to incorporate the millions in need in an economy of solidarity, brotherhood, fellowship and social balance. This is the step to be taken, if one desires, in fact, to walk head-on toward a better world.
Aristotle said that the possession of a minimum level of income is needed so that man can live with dignity and according to virtue. How is it possible to create a more just economy with less poverty? Undoubtedly, the maintenance of a constant and high rate of economic growth is a prerequisite for the improvement of living conditions, along with a proper policy of income transfer.
But you can fall into a deterministic view, and see everything in terms of social engineering. We must also consider human development, which emphasizes the importance and dignity of each person. This depends not only on good economic policy, but initiatives for cooperation and solidarity that can be performed by each of us in schools, businesses and any organization of civil society. One example is the Ethos Institute, which encourages businessmen and executives to manage their business in a socially responsible manner.
It is essential that those who are better off act ethically and politically for the reduction of poverty and social inequality.
 
(*) Economist (USP) and Masters Degree in Demography (Unicamp).
(**) Economist (FEAO), master, USP, is a professor of economics and the FAC-FITO UNIFIEO.
Both are members of GECEU - Study Group Foreign Trade UNIFIEO.
Contact:
cimar.aparicio @ gmail.com
prof.marcuseduardo @ bol.com.br


Translated from the Portuguese version by:
Lisa KARPOVA
PRAVDA.Ru

TROCANDO A INSANIDADE ECONÔMICA PELA ECONOMIA SOLIDÁRIA



Trocando a insanidade econômica pela economia solidária
Marcus Eduardo de Oliveira


É fato inconteste que por meio do comportamento econômico é possível compreender a atual situação do mundo, em suas dimensões econômicas e sociais. E, ao compreender essa atual situação que se desenrola nesse século XXI, com 1 bilhão de pessoas passando fome, segundo dados divulgados pela ONU (Organização das Nações Unidas), torna-se inadmissível aceitar a existência de um modelo econômico que produz riqueza gerando pobreza; que eleva a produção agredindo o meio-ambiente; que fabrica bens à base da subordinação de muitos mediante a precarização cada vez mais intensa das relações de trabalho; que faz uso de trabalho escravo e infantil; que desumaniza as relações econômicas em troca do lucro rápido.
Isso é simplesmente uma insanidade econômica que produz para o gosto de alguns apenas extravagâncias e, em nada, absolutamente em nada, contribui para a efetivação do bem-estar coletivo, distanciando-se, pois, do objetivo principal dos modelos econômicos, qual seja: consolidar o desenvolvimento econômico.
Exemplos dessa insanidade econômica não faltam e ganham, a cada dia, maior visibilidade. Enquanto de um lado poucos ganham muito, do outro, muitos sofrem e nada ganham. Essa insanidade econômica parece não ter limites e se reproduz, por consequência, cada vez mais usando trabalho infantil e escravo. Os exemplos disso saltam aos olhos de todos que querem ver. Lojas de tapetes na Índia, no Nepal e no Paquistão usam quase um milhão de crianças na linha de produção. Vários são os casos em que muitas dessas crianças atingiram a cegueira devido ao longo tempo em que passaram costurando.
As casas de prostituição tailandesas, indianas e birmanesas usam meninas de 10 e 11 anos de idade, numa submissão sexual sem precedentes. De igual forma, em várias cidades da região Nordeste do Brasil, são “vendidos” pela rede internet a estrangeiros em visitas às cidades “programas sexuais” com adolescentes menores de 15anos de idade.

No Oriente Médio, nas famosas corridas de camelo, os jóqueis são meninos entre 12 e 15 anos “comprados” por comerciantes e tratados com brutalidade, da mesma forma como também são tratados os camelos.
No Camboja, a indústria de tijolos e telhas faz uso de meninos descalços e sem nenhuma proteção para o transporte desse produto. Razão pela qual muitas crianças aparecem com braços, pernas e dedos cortados pelo manuseios dos pesados tijolos.

A Nike, fabricante de calçados esportivos, enquanto enche ano a ano seus cofres e torra fortuna em publicidade, continua usando trabalho infantil na Indonésia. A Adidas, outra marca de reconhecimento internacional, fechou fábricas na Europa e transferiu grande parte de sua produção para a Ásia, aproveitando assim a mão-de-obra de baixíssimo custo.
No estado de Tamil Nadu (sul da Índia) quase 400 mil meninos e meninas trabalham manualmente produzindo cigarros da marca “beddies” vendidos exclusivamente a elevado preço no mercado local. O “salário” desses meninos e meninas não ultrapassa 30 centavos de dólar por hora.
Os brinquedos distribuídos junto aos lanches das redes alimentícias Mc Donald´s, Bobs e Burger King, em mais de 140 países, são feitos por crianças com idade entre 11 e 14 anos em galpões sem nenhuma ventilação, a maioria deles localizados em Taiwan. Essas crianças chegam a trabalhar entre 10 e 12 horas por dia em troca de ninharias ao final do mês; grande parte delas apresentam queimaduras em mãos e braços, mediante o uso de componentes químicos. No entanto, em 2008, somente a rede Mc Donald´s anunciou um lucro recorde de US$ 4,3 bilhões (US$ 3,76 por ação) atendendo, em média, 58 milhões de consumidores por dia.
Ainda em termos de brinquedos infantis, talvez os casos mais infelizes aconteçam nas fábricas na China, onde trabalham 70 milhões de crianças e adolescentes. Esse país asiático é o maior exportador de brinquedos do mundo, usando aproximadamente 6 mil fábricas situadas na maior parte na chamada "terra dos brinquedos", a província de Guangdong (sudeste do país).
Desse local procedem, por exemplo, o boneco "Buzz Lightyear" (do desenho "Toy Story"), um dos mais populares da Walt Disney. Há ainda uma ampla gama de produtos da empresa Mattel, a fabricante das bonecas “Barbie”. A mão-de-obra infantil usadas nessas fábricas é remunerada a 13 centavos de dólar por hora, numa jornada diária de 14 horas de trabalho. Por sua vez, em 2007, o lucro da Mattel atingiu US$ 379,6 milhões (US$ 1,05 por ação).
No Brasil, apesar da lei estabelecer 16 anos como a idade mínima para o ingresso no mercado de trabalho, mais de 5 milhões de crianças e jovens entre 7 e 15 anos trabalham nesse país, segundo pesquisa do IBGE – grande parte delas na agricultura.

De acordo com dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e do Programa Internacional de Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC), base 2006, existem no mundo cerca de 350 milhões de crianças entre 5 e 16 anos envolvidas em alguma atividade econômica. Entre elas, cerca de 250 milhões são submetidas a condições consideradas de exploração, o que equivale a uma criança em cada seis no mundo. Destas, 170 milhões trabalham em condições perigosas e 76 milhões têm idade inferior a 10 anos. A maior parte deste “exército de mini-trabalhadores” (entre 5 e 14 anos de idade) vive na Ásia (127 milhões) e na África e Oriente Médio (61 milhões).
Na América Latina e Caribe são 17,4 milhões. Os países industrializados e o leste europeu não são exemplos de boa conduta nesse problema, uma vez que abrigam pelo menos 5 milhões de crianças trabalhando. Uma parte menor, mas dramaticamente consistente, desse contingente de trabalhadores é vitima de escravidão e destinada, por exemplo, à atividade de prostituição - número estimado em 8,4 milhões de crianças no mundo.
Em Bombaim, nos bordéis localizados na rua de Falkland, as meninas mais jovens e bonitas são exibidas em jaulas ao nível da rua para atrair clientes. Muitas mulheres são ali despejadas por traficantes, mas muitas são definitivamente “vendidas” pelos pais ou pelos maridos. Estima-se que atualmente 90 mil mulheres – metade das quais despachadas a partir do Nepal para a Índia – trabalham como prostitutas nessa cidade. A violência, as doenças, a subnutrição e a falta de cuidados médicos reduzem a esperança de vida para menos de 40 anos dessas pobres trabalhadoras.
Todos esses poucos (diante de uma infinidade) exemplos fazem parte de um modelo econômico insano que privilegia os ganhos financeiros em detrimento do sofrimento e da dor.
No mesmo instante em que crescem os lucros de empresas como a Nike, Adidas, Matell, das redes alimentícias Mc Donald´s e similares, dos fabricantes de tapetes do Nepal, da Índia e do Paquistão, cresce a dor e o sofrimento de milhões de indivíduos que “contribuem” com horas e horas de trabalho para os ganhos exorbitantes desses grandes conglomerados que superam em importância econômica várias nações. Não por acaso, nesse pormenor, 51% das cem maiores economias do mundo são corporações, e não países.
Enquanto esse modelo econômico perverso não for alterado, o alargamento dos bolsões de pobreza, miséria e indigência será constante. Enquanto o próprio conceito de economia não incluir em suas análises a valorização e a participação do indivíduo, nenhuma mudança será possível. Nesse sentido, enquanto a economia não for solidária e participativa, o modelo econômico atuante será o de sempre: excludente e individual, guiado unicamente pelo egoísmo e pela insensibilidade perante o sofrimento de muitos.
Por Economia Solidária entendemos um sistema econômico em que o indivíduo seja o ponto central na organização da atividade econômica e, acima de tudo, em que os direitos sociais sejam estabelecidos como princípios reguladores da economia. Economia Solidária pressupõe que a responsabilidade seja coletiva, e não individual; onde haja a união do capital ao trabalho, unindo o trabalho associativo (ajuda mútua) entre associações, cooperativas e agências de fomento.
No entanto, não nos iludamos: a mudança para uma economia solidária e participativa exigirá tempo. Necessitará, nas palavras de Riane Eisler, autora de The Real Wealth of Nations, [A Verdadeira Riqueza das nações], “modificações nos valores culturais e institucionais”. Mas, nmão tenhamos dúvidas: se um número suficiente de pessoas se mobilizar, ela terá lugar.
Dessa forma, a economia precisa urgentemente mudar em prol da melhora de vida dos mais necessitados. Uma economia mais justa e solidária é perfeitamente possível e, com ela, não haverá perdedores – todos ganharão. Diante disso, resta nos mobilizarmos e nos inserirmos participando da economia solidária; afinal, entendemos que a economia (enquanto ciência) deve se pôr exclusivamente à serviço de diminuir as diferenças sociais que são, infelizmente, cada vez mais gritantes.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor universitário.
Mestre pela USP em Integração da América Latina e
Especialista em Política Internacional.
Autor dos livros “Conversando sobre Economia” (ed. Alínea) e “Provocações Econômicas” (no prelo).
Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

QUE SISTEMA ECONÔMICO QUEREMOS?



QUE SISTEMA ECONÔMICO QUEREMOS?
Marcus Eduardo de Oliveira


“Há uma miséria maior do que morrer de fome
no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã”
José Américo de Almeida, A Bagaceira (1928)

O mundo que se desenrolou no século XX, indiscutivelmente, nos legou grande êxito tecnológico, mas também, ao mesmo tempo, nos deixou como herança para esse século XXI um total fracasso ético representado nas estatísticas perversas apontando que todas as noites 900 milhões de pessoas vão se deitar com fome e, algo como 5 milhões de crianças morrem todos os anos em decorrência da fome.
Se o Homem da modernidade deseja mesmo continuar evoluindo na Terra, esta evolução somente fará sentido, e terá plena e irrestrita validade, quando perversidades como a morte pela fome ou por doenças dela decorrentes, por exemplo, forem definitivamente banidas do planeta.
E é justamente a esse Homem que cabe a principal tarefa do momento: pôr fim a essa perversidade, tais quais os Homens de 150 anos passados fizeram, pondo fim à escravidão em diversas sociedades.
Afinal, são os Homens (no sentido amplo do termo) que constroem, a cada dia, as sociedades que não param de apresentar mudanças.
Cumpre ressaltar que essas sociedades são “construídas” pelo livre pensar dos Homens, usando os pilares do sistema econômico, dos regimes políticos, da justiça, dos códigos do Direito, dos deveres e direitos dos cidadãos, dos princípios morais e das ações dos governantes.
Nesse sentido, em especial pelo viés da atividade econômica, que tanto pode responder rapidamente pela expansão (melhoria) ou pela regressão (piora) do modo de vida das pessoas, os modelos econômicos praticados atualmente, quer nos países desenvolvidos ou nos mercados emergentes, precisam se descolar, primeiramente, de um falso argumento que permeia a teoria econômica: não é aumentando a riqueza daqueles que já tem muito que se conseguirá diminuir a pobreza daqueles que nada tem. Em outras palavras, não se pode pensar nos caminhos que conduzem ao aumento da riqueza, ignorando, para isso, as possibilidades de redução da pobreza.
Igualmente é necessário romper, de forma definitiva, com o conceito dominante nas ciências econômicas de que riqueza e pobreza devam ser medidas pelo mesmo padrão: o produto interno bruto (PIB) e sua conseqüente renda per capita.
É fundamental que tenhamos a lucidez conceitual para verificarmos que crescimento econômico (elevação do PIB) não significa queda da pobreza, até mesmo porque o PIB como forma de medir riqueza trata-se de tremendo equívoco.
É certo que não se acaba com a pobreza crônica gerando empregos e fazendo o produto interno se expandir. Pobreza se acaba a partir da melhoria no sistema de saúde, tratando com qualidade à educação para oferecer educação com qualidade, melhorando as condições de higiene e alimentando melhor os mais pobres; portanto, proporcionando aos mais necessitados as básicas condições para o bem-estar.
O padrão de crescimento econômico das sociedades modernas não pode ser praticado, como temos presenciado, sob uma plataforma socialmente perversa, que desrespeita o indivíduo, não privilegia as condições dignas de trabalho, faz uso inadequado dos recursos naturais, polui o ar que respiramos e que se centra, apenas, sob a ótica mercantil. Nesse pormenor, as palavras do economista indiano Amartya Sen são exemplares: “Não se deve olhar o progresso de uma economia verificando o aumento da riqueza dos que já são ricos, mas na diminuição da pobreza daqueles que são muito pobres”.

A saída pode estar na prática da economia solidária
Se realmente desejamos uma sociedade melhor, outro mundo precisa, urgentemente, ser “edificado” sob novos olhares. Especificamente sob o olhar de que a mudança é plausível e está ao nosso alcance.
Reflexão coletiva é irmã siamesa da ação participativa. Assim, mostrando primeiramente as feridas, poderemos chegar, mediante ações, a sua cicatrização.
É necessário conhecer (pensar) para compreender e, é compreendendo que empreenderemos as ações. O pensamento precede a ação, assim como o desejo (o querer) incita o fazer, o agir. Agindo, “forçaremos” a mudança e, mudando, certamente, progrediremos.
Ensina-nos a Teologia que o plano de Deus ao Homem é a sua perfeição. No entanto, quis a Providência Divina que ao próprio Homem coubesse a escolha de qual caminho percorrer.
Assim, os caminhos percorridos pela livre vontade humana foram se alargando e as vielas e atalhos, por conseqüência, se multiplicaram. Desvios de conduta, obstáculos e buracos pelas diversas estradas não faltaram (e não faltam); eis porque, ainda hoje, por não estar trilhando o caminho correto, o Homem moderno parece conviver “pacificamente” com situações que, à luz do bom senso, aquele que esteja gozando plenamente de suas faculdades mentais jamais poderá admitir. Dentre elas, a existência de seres humanos vitimados pela ignominiosa situação que é a fome.
Para mudar essa situação, devemos agir. É nesse sentido que a economia solidária – uma nova maneira de “ver, pensar, sentir e fazer” economia vem ganhando destaque.
Conquanto, essa nova economia somente será solidária e ocupará espaço positivo à medida que um maior número de adeptos engrossarem as fileiras desse novo modelo econômico.
Desse modelo que respeita os padrões de produção, sem agredir os recursos naturais, respeitando à geração futura. De um modelo que respeita e prioriza o trabalho não remunerado da mulher “dona do lar”, vendo nisso também uma atividade econômica produtiva e, acima de tudo, desse modelo que afirma positivamente o trabalho das organizações não governamentais.
O modelo de economia solidária que queremos ver ganhar dimensão respeita a geração presente, priorizando, valorizando e enaltecendo o ser humano, em lugar de focar na acumulação de capital, típica da selvageria capitalista.
Por sinal, essa “selvageria capitalista”, ao longo dos últimos 200 anos, deu mostras de que não foram (e não são) as relações igualitárias que prevaleceram (e que prevalecem), mas sim a busca incansável pelo lucro, mesmo que a vida de milhões e milhões de pessoas sejam (e tenham sido) sacrificadas.

Por um novo sistema econômico
Um novo sistema econômico, solidário e participativo, mais ético e menos mercantil, precisa, portanto, emergir para diminuir a abissal diferença entre o modo de viver dos mais ricos em relação aos mais pobres, até mesmo porque essa diferença já extrapolou todo e qualquer limite. Afinal, estamos num mundo em que vinte por cento da Humanidade não hesita em gastar três dólares por dia num simples cappuccino; enquanto, do outro lado, quase 40% da população mundial “tenta” viver com menos de dois dólares por dia.
Para manter uma vaca na Europa central são gastos quatro dólares por animal a cada dia. No entanto, por não receber nem dois dólares (menos da metade do que uma vaca “recebe” em forma de subsídio) por dia, 3 milhões de pessoas morrem por causa de malária todos os anos na África subsaariana.
A cada semana, a pobreza e suas “conseqüências” matam no continente africano o mesmo número de pessoas que foram dizimadas pelo tsunami que atingiu o sudeste asiático.
No entanto, a maior economia do mundo (EUA) gastou, apenas em 2007, US$ 547 bilhões em material bélico para manter suas tropas ocupando mais de 700 bases militares em mais de 110 países.
Segundo o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo, foi gasto pelos países mais ricos, somente em 2007, a importância de US$ 1,339 trilhão em armamentos (incluindo todos os tipos de armas). Isso representou 2,5% do PIB mundial.
Para cada US$ 1 que a Organização das Nações Unidas (ONU) gasta em campanhas publicitárias para buscar a paz mundial, os três países ricos gastam, cada um, outros US$ 20 para promoverem guerras e destruições. Até onde e quando esse modelo econômico perverso continuará dando as cartas?

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor universitário.
Mestre pela USP em Integração da América Latina, especialista em Política Internacional (FESP), e curso de especialização pela Universidade de La Habana (Cuba)

PROVOCAÇÕES ECONÔMICAS



PROVOCAÇÕES ECONÔMICAS:
MAIS PERGUNTAS QUE RESPOSTAS, MAIS DÚVIDAS QUE CERTEZAS

Por Marcus Eduardo de Oliveira (*)


Com a fama de termos um linguajar sibilino, nós economistas, quase sempre, somos pouco compreendidos em nossas análises pelo público em geral. Essa pouca compreensão piora, sensivelmente, quando o assunto versa sobre previsões econômicas – espécie de tarefa predileta de alguns, e verdadeiro “ganha-pão”, de outros profissionais da área.
O fato é que fazendo uso de modelos econométricos cada vez mais rebuscados, abusando das variáveis (endógenas ou exógenas) matemáticas e “estimando” as mais diversas taxas e índices, desde o câmbio à inflação, dos juros ao nível geral de preços, passando pelos salários, a “salada econômica” proferida pelos que fazem “previsões” econômicas fica completa e muitos, do público em geral, ficam a ver navios, sem nada entender.
E não é de se admirar que a população em geral pouco entenda nossas “análises econômicas”, até mesmo porque, entre nós próprios, (eis o paradoxo dos paradoxos!) poucas vezes o consenso se estabelece. Eis que o dissenso, então, parece ser a regra desde que Adam Smith pôs luz na ciência econômica.
Dessa forma, a Economia (enquanto ciência) se “afunda” ainda mais na incompreensão do público em geral e torna-se, por conseqüência, pouco degustável. No entanto, é esse o “nosso mundo” em que sobram perguntas, mas faltam respostas convincentes. As dúvidas superam, de longe, as certezas e o non sense, por conseguinte, parece, por vezes, predominar.
Cristovam Buarque em, “Da ética à ética”, provoca um pouco mais. Diz que o papel do economista e do professor universitário de Economia é justamente esse: “viver a aventura de procurar e perguntar, sem esperar encontrar ou responder”.
Por aqui, clamamos por algumas respostas. Para tanto, façamos (e deixemos no ar) algumas perguntas.
Quem sabe, um belo dia, o economês (nossa linguagem tecnicista e rebarbativa) se torne acessível, digerível e, acima de tudo, compreensível para todos. Afinal, a Economia nasceu, enquanto ciência, para dar respostas afirmativas aos indivíduos, e não para complicar a vida desses. Toda e qualquer ciência, por sinal, precisa ser de domínio público, até porque ela precisa ser útil à sociedade e, de alguma forma, contribuir para a melhoria de todos.
Procuremos então “decifrar” o que segue, nesse vasto mundo dos economistas repleto de provocações e contradições:

1. Até quando a economia tradicional continuará ignorando em suas análises o ser humano?

2. A economia deve estar a serviço das pessoas ou são as pessoas que devem se pôr a serviço da economia?

3. O ser humano deve ser pensando como um “instrumento” do desenvolvimento ou, antes disso, deve ser entendido como o próprio fim do desenvolvimento, visto ser a economia uma ciência social?

4. O desenvolvimento precisa, de fato, do crescimento econômico? É possível um país se desenvolver sem necessariamente ter crescido economicamente antes?

5. O equilíbrio econômico impulsiona realmente a atividade econômica? Não seria melhor um pouco de desequilíbrio para alavancar o nível de atividade econômica? Talvez um excesso de demanda aqui, um choque de oferta ali, um pequeno aumento de preços acolá? Pode, de fato, uma calmaria geral (equilíbrio) impulsionar (fazer crescer) algo (o mercado), por exemplo?

6. A estabilização leva ao crescimento econômico ou é o próprio crescimento econômico, uma vez alcançado, que proporciona, doravante, uma boa e adequada estabilidade dos chamados agregados macroeconômicos?

7. A pobreza gera desigualdade social ou é a desigualdade social (um desequilíbrio econômico?) que faz aumentar (ou manter) o nível de pobreza?

8. Até quando a economia continuará sobrepujando o meio-ambiente?

9. Quando é que os economistas vão entender que a economia é apenas um subsistema do meio ambiente, dependente dele para tudo? Quando é que será percebido que as leis da Economia não dominam as leis da natureza?

10. Até quando será ignorado que existem limites físicos e ambientais para o crescimento?

11. Até quando a dita teoria econômica moderna continuará ignorando a Ecoeconomia e, principalmente, os trabalhos teóricos de Nicholas Georgescu-Roegen?

12. Quando um sistema econômico entra em profunda depressão, de quem é a culpa? Da economia ou dos economistas?

13. A tal “mão invisível” propugnada pelos clássicos ingleses realmente existe ou ela é, de fato, tão invisível a ponto de ninguém nunca ter visto, sentido ou tocado-a?

14. Pela lógica econômica atual devemos realmente considerar que a acumulação de bens leva à satisfação e ao prazer (utilidade) ou a busca pelo prazer e pela satisfação (hedonismo) envolvem outras varíaveis que a economia desconsidera?

15. Qual o real objetivo da Economia: a produção de riqueza ou proporcionar bem-estar as pessoas?

16. Deve à economia trocar a lógica do crescimento (vista pelo prisma da quantidade) pela lógica do desenvolvimento (cujo sinônimo é qualidade) ou o que realmente importa é o aumento da produção?

17. O ritmo econômico atual baseado na produção excessiva e no consumo desenfreado é sustentável ou já se esgotou?

18. Esse mesmo ritmo econômico caminha a passos largos para aumentar ainda mais a concentração de renda e de riqueza (nos países mais avançados) ou caminha para atenuar as gritantes desigualdades sociais e econômicas (nos lugares mais atrasados)?

19. Uma criança passando fome, dormindo ao relento, sem estrutura familiar e sem expectativa de melhora deve ser objeto de análise da macro ou da microeconomia? Ou isso é um problema de ética e não de teoria econômica?

20. Devemos ou não propor a troca do atual modelo de competição (que divide e exclui) pelo de cooperação (que soma e inclui)? Ou essa divisão/exclusão - soma/inclusão não é uma condição verdadeira?

21. A Lei de Pareto ou (Regra 80/20) que diz, por exemplo, que 20% dos vendedores de uma equipe produzem 80% dos resultados em vendas; que 20% dos clientes da sua empresa, garantem 80% dos resultados financeiros ou, em última análise, que em sua casa, no aconchego do lar, é quase certo que você usa apenas 20% do seu guarda-roupa em 80% do tempo disponível, ainda hoje, na correria do dia a dia a que somos acometidos, pode ser considerada como válida e pertinente?

22. Até quando os economistas continuarão a computar as externalidades negativas para a composição do valor do PIB?

23. No conhecido e propagado “mundo dos espertos” existe espaço para a prática pura da “concorrência perfeita”? E no mundo dos negócios, isso é plausível?

24. O preço sempre obedece a relação oferta-procura?

25. É possível afirmar que existe um momento no qual crescer economicamente acaba sendo prejudicial (gerando mais custos do que benefícios) ou isso é coisa de economistas-ecologistas que são, por conceito, pessimistas e catastróficos?

26. Toda ação do indivíduo, como propõe a teoria econômica, é economicamente racional ou existe espaço para a “prática” da irracionalidade econômica?

27. O Homo-Economicus sempre analisa a relação custo-benefício em suas atitudes mercadológicas?

28. Qual objetivo econômico-social deve ser perseguido primeiramente por uma (qualquer) nação: o aumento da riqueza dos que já são ricos ou a diminuição da pobreza daqueles que já são pobres?

29. O modelo de Economia Solidária, centrado nos valores da cooperação e da solidariedade, cabe dentro da “selvageria capitalista” dos dias de hoje?

30. A busca incansável pelo lucro é, de fato, a força motriz das economias modernas?

31. As relações igualitárias (justiça social e econômica) prevalecem em ambientes competitivos, marcado pelo individualismo em economias cada vez mais descentralizadas?

32. Qual das duas situações a seguir deve ter mais relevância no âmbito econômico: quando o PIB vai bem ou quando o povo vai mal?

33. Até quando será possível aceitar a existência de um modelo econômico que gera riqueza produzindo pobreza?

34. Tem limites a insanidade econômica que faz uso da mão-de-obra infantil, escrava e desumana?

35. Até quando o modelo econômico continuará virando as costas para o drama de a cada cinco segundos uma morte acontecer ao redor do mundo devido à existência da fome e de doenças dela decorrentes?

36. Até quando a miséria em que muitos vivem (2,5 bilhões de habitantes, 40% da população mundial) continuará correndo em paralelo a exuberante riqueza de outros (15% da humanidade)?

37. Até quando um quinto da população mundial continuará não hesitando em gastar dois dólares por dia num simples cappuccino, enquanto outro quinto da população não tem esses mesmos dois dólares para tomar um suco de laranja ou um copo de leite?

38. Até quando os economistas vão continuar confundindo modernidade com desenvolvimento?

39. Até quando o modelo econômico que faz avançar a tecnologia conseguirá conviver, “pacificamente”, com a indiferença, a injustiça e a desigualdade social que sepulta, por ano, ao redor do mundo, seis milhões de crianças?

40. Pode a atividade econômica ser responsabilizada sozinha pelo grande número de espécies de animais e vegetais encontrarem-se em risco de extinção?

(*) Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor da FAC-FITO, do UNIFIEO e da Faculdade de Vinhedo. Mestre em Integração da América Latina (PROLAM-USP) e Especialista em Política Internacional (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), com curso pela Universidade de Havana (Cuba). Articulista do Portal Ecodebate e da Agência Zwela de Notícias (Angola). Tem textos publicados em Cabo Verde, Angola, Portugal, Espanha, México e Equador. Seu mais recente livro é “Pensando como um Economista”.
HTTP://economiasocialehumana.blogspot.com

PENSANDO COMO UM ECONOMISTA - Livro




PENSANDO COMO UM ECONOMISTA, de Marcus Eduardo de OliveiraNessa obra, o prof. Marcus Eduardo de Oliveira aborda uma maneira específica de pensar do economista moderno. Em versão eletrônica, sem custo, o autor fez questão de distribuir gratuitamente essa obra, por entender que se faz necessário a divulgação das idéias a um público mais amplo. Editado pela eBookBrasil, em 2010,"Pensando como um Economista" pode ser lido aleatoriamente, pois cada capítulo é independente.

CONVERSANDO SOBRE ECONOMIA - Livro




CONVERSANDO SOBRE ECONOMIA - Uma interpretação crítica da economia brasileira, de Marcus Eduardo de Oliveira
Uma abordagem ampla da economia brasileira na era FHC. Marcus Eduardo interpreta a realidade econômica sob o ponto de vista de uma ciência que se pretende ser mais social e menos tecnicista. Publicado pela editora Alínea, "Conversando sobre Economia" foi escrito numa linguagem mais clara e, por isso, acessível ao público não familiarizado com os termos econômicos.

ARTIGOS PUBLICADOS EM PORTUGAL - A Economia e a Vida



O Notícias Lusófonas publicou nosso artigo "A Economia e a Vida". Para acessar o artigo, basta clicar no link abaixo:


http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=27064&catogory=Opini%E3o

16 de julho de 2010

A LUTA PELA LIBERDADE CONTINUA / UM GRITO CONTRA A OPRESSÃO POLÍTICA

Excertos do prof. Marcus Eduardo de Oliveira

A luta pela liberdade continua / Um grito contra a opressão política

A luta pela liberdade continua

Muitos nos ensinaram a luta pela liberdade, assim como a busca pela “Terra prometida”, exemplificado com o povo judeu que, pelas mãos de Moisés, atravessaram por 40 anos o deserto.
Dessas lutas pela liberdade, fomos aprender com Spártacus (gladiador de origem trácia, na Roma Antiga e com seus seis mil companheiros que acabaram crucificados na estrada da Via Ápia, por ordem do torpe Marco Crasso) o real significado do termo liberdade. Ainda pelo lado da luta de escravos contra a opressão e a tirania vil, destacam-se os nomes de Nat Turner (que encabeçou a primeira rebelião de escravos na Virgínia, EUA); Ganga Zamba e Zumbi (tio e sobrinho, respectivamente, no Quilombo dos Palmares); François Dominique Louverture e Jean-Jacques Dessalines (heróis da libertação do Haiti).

Um grito contra a opressão política
Outros nobres espíritos deram o “grito de liberdade” contra a opressão política imposta pela força do dinheiro e do poder. Exemplos dessa luta são os casos de Zapata e Pancho Villa, na Revolução Mexicana. Lênin e os bolcheviques, na Revolução Russa.
César Sandino lutou por uma República Dominicana livre da ingerência norte-americana. Che Guevara lutou pela Revolução Cubana; Farabundo Martí atuou em El Salvador e o líder indígena Tupac Amaru (ou Jose Gabriel Condorcanqui) esbravejou contra a elite dominante que massacrava os indígenas.
Um dos marcos da liberdade até hoje com certeza é a “Sociedade dos Filhos da Liberdade”, criada por Adams e Dickinson, em Boston, em 1773.
O Subcomandante Marcos – um dos líderes dos indígenas mexicanos do Estado de Chiapas – é a voz que se faz proclamar na atualidade.
No passado não muito distante, coube ao líder Ahmed Ben Bella, lutar pela independência da Argélia, enquanto Patrice Lumumba lutava pela independência do Congo e Amílcar Cabral, pela independência de Guiné-Bissau.
Do lado “teórico-intelectual” coube a alguns nobres espíritos “sonhar” em construir uma sociedade perfeita. Nesse pormenor temos os nomes de Thomas Morus (Utopia), Tomaso Campanella (A Cidade do Sol) e James Hilton (Xangri-lá), além dos religiosos ligados a Teologia da Libertação (Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff, Pedro Casaldáliga).
Muitos foram os que pagaram com a vida ao lutar por um mundo mais justo. Nosso Frei Caneca foi um deles. Oscar Romero, bispo de El Salvador assassinado por forças imperialistas, é outro exemplo disso.
Camilo Torres, teólogo colombiano que aderiu a guerrilha urbana, e o francês François Babeuf desejaram não apenas igualdade de direito perante a lei, mas igualdade de vida com a “Conjugação dos Iguais”, desse último.
O brasileiro Felipe dos Santos que na Revolta de Vila Rica foi punido com a morte por meio de uma argola de ferro a lhe apertar o pescoço e Steven Biko, líder sul-africano, assim como também o sul-africano Nelson Mandela, sabem bem o que significa lutar pela liberdade.
Outros lutaram pela igualdade não de oportunidades, mas igualdade pela cor da pele, como foi o caso do poeta negro mais popular da América Latina, Aime Cesaire, criador do termo “negritude” ao lado do guianense Leon-Gontran e do senegalês Léopold Sedar Senghor, que por quatro vezes foi presidente da República do Senegal.
Outro iluminado nesse aspecto foi o reverendo da igreja Batista Martin Luther King, brutalmente assassinado em abril de 1968.
Willian Henry Hastie foi um dos protagonistas da luta pelos direitos civis nos EUA e o primeiro negro a governar as Ilhas Virgens dos EUA.
A esses nomes acrescentamos os brasileiros Francisco José do Nascimento, conhecido como “Dragão do Mar” por impedir através do porto de Fortaleza o embarque de escravos; João Cândido, o “Almirante Negro”, líder da Revolta da Chibata, contra castigos físicos impostos aos marinheiros e José do Patrocínio, o “Patrono da Abolição”.

PARA REFLEXÃO



O Brasil ficou entre os 8 melhores do mundo no futebol e ficou triste.

É 85º em educação e não há tristeza.


Cristóvam Buarque

TEXTOS PUBLICADOS EM PORTUGAL




Pessoal,

O NOTÍCIAS LUSÓFONAS, agência de notícias de Lisboa, punlicou até agora sete artigos nossos. São eles:

1. POR UMA ECONOMIA QUE COLOQUE AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR, em 19/mai/2010

2. A ECONOMIA E O COMPORTAMENTO HUMANO, em 26/mai/2010.

3. A ECONOMIA NADA É SEM UM PROJETO DE VIDA, em 05/jun/2010.

4. A ECONOMIA E A VIDA, em 11/jun/2010.

5. A ECONOMIA DE COMUNHÃO: O OUTRO NOME DA FRATERNIDADE, em 11/jun/2010.

6. A ECONOMIA E A TEOLOGIA, em 29/jun/2010.

7. O HORIZONTE DA ECONOMIA, em 07/jul/2010.

Fica aqui uma sugestão de boa leitura. Acesse o site:

POR UMA NOVA ECONOMIA


POR UMA NOVA ECONOMIA




Marcus Eduardo de Oliveira (*)

Desigualdade, pobreza, fome, miséria, indigência, crianças e idosos abandonados à própria sorte. Concentração de renda, de terras, de riqueza e de poder. Esquemas de corrupção, instituições desacreditadas, classe política sem mérito, tráfico de influências. Trabalho escravo, salários indignos, subemprego. Mercado de consumo para poucos privilegiados, sistema econômico desagregador. Agregados econômicos no centro da análise econômica, o indivíduo (o ente primordial da Economia) completamente esquecido dessa análise. Eis aqui alguns dos principais sintomas que adoece gravemente uma sociedade levando-a ao desequilíbrio econômico-social.
Estritamente do ponto de vista social, a raiz do desequilíbrio de qualquer sociedade parece residir, efetivamente, na existência de desigualdades.
Nesse pormenor, cumpre ressaltar que pobreza e desigualdade acontecem em momentos diferentes, e não são sinônimos. Entendo que a segunda determina a primeira provocando, por conseqüência, um desarranjo econômico.
Dessa forma, minha justificativa teórica é de que temos pobreza por conta de antes termos desigualdade.
Portanto, a desigualdade é, em essência, fonte geradora (e alimentadora) da pobreza. Isso implica dizer que para acabar com a pobreza, faz-se necessário eliminar primeiramente os focos de desigualdade.

A escravidão e o latifúndio
Em nosso caso específico, essa desigualdade tupiniquim provoca uma espécie de subproduto, um desequilíbrio econômico-social que tem como origem duas chagas que marcam tristemente a história de segregação social desse país: a escravidão e o latifúndio.
A história parece corroborar essa afirmação. Não à toa, o Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão e, por mais de cinco séculos, esse país ainda mantém, no bojo, uma estrutura fundiária praticamente intocada, à medida que faz vistas grossas ao latifúndio.
Os negros foram libertos do cativeiro; mas continuam “presos” nos dias de hoje aos baixos salários e, em muitos casos, assim como os mais pobres dentre os pobres, continuam “amarrados” aos latifundiários, numa subserviência sem precedentes.
Não por acaso, em pleno século XXI, escravidão e latifúndio continuam andando de mãos dadas mantendo uma histórica perversidade sem limites num país que detém todas as condições para mudar essa situação.
As terras continuam em poder de poucos. Três por cento do total das propriedades rurais do país são latifúndios (ocupando 56,7% das terras agricultáveis), de acordo com o Atlas Fundiário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Somente o Grupo CR Almeida, de propriedade de Cecílio Rêgo de Almeida, possui 4,5 milhões de hectares, localizados na Terra do Meio, no Estado do Pará.
Como prova de que escravidão e latifúndio convivem juntos no Brasil, registra-se que em apenas 11 anos, de 1995 a 2006, fiscais do governo federal conseguiram libertar 18 mil pessoas (em média, são mais de 1600 por ano, mais de 130 por mês, quatro trabalhadores a cada dia) que trabalhavam sob regime de escravidão em 1500 propriedades rurais.
Não restam dúvidas de que a maior de todas as necessidades e prioridades que se impõe a todos nós é a de lutarmos bravamente contra isso.
A busca por uma sociedade de iguais
Fome, miséria, pobreza, opressão e exclusão social não podem, em plena luz da busca por desenvolvimento econômico e humano, continuar a serem expoentes de uma sociedade que por mais de 500 anos tem convivido pacificamente com a exclusão social. Uma sociedade de iguais, econômica, política e social, se faz necessária para o bem de todos.
Essa sociedade de iguais pressupõe, todavia, uma ação coletiva, para que todos vivam uma vida coletiva, de preferência de ajuda mútua, jamais individualizada.
O grande desafio que está reservado a essa geração que ora chega ao mercado de trabalho, bem como àqueles que assumem os postos de comando da esfera pública é construir os alicerces dessa vida coletiva, com participação plena de todos, em busca de inclusão.
Viver excluído é a pior situação reservada ao indivíduo. A vida não nos foi dada para que cada um se isole. Nascemos e convivemos em sociedade, junto a nossos pares. Convivemos com semelhantes; porque então não nos ajudarmos uns aos outros?
A comunidade, a sociedade precisa completar sua tarefa de construção sobre o ideal da cooperação entre os pares. Ninguém consegue viver sozinho, isolado, restrito, à margem de tudo.
Os vários grupos que constituem o tecido social precisam, cada vez mais, se fortalecerem nesse sentido. A cooperação – em lugar da competição - parece ser o caminho mais viável para isso.
Esse sentimento que permeia a construção de uma sociedade de iguais - sonhada por muitos e, infelizmente, praticada por poucos -, tem pelo menos dois mil anos de história.
A Economia, incluindo aqui o sistema econômico e a atividade econômica, enquanto “matriz” produtora e organizadora de bens e serviços, precisa ser pensada (e ensinada no meio universitário) também nesse sentido.
É o indivíduo, e nada mais, que precisa ocupar o centro principal do pensamento econômico. Dessa forma pensavam os economistas clássicos quando identificaram que a busca individual por melhorias provocaria uma melhora coletiva. Também os anarquistas enfatizaram o modo de vida coletivo, ao proporem a abolição da autoridade governamental, ficando as decisões a cargo da coletividade. Os marxistas não foram diferentes, quando analisaram a emancipação da classe trabalhadora livre da opressão dos empresários.
De igual forma, também a Escola Austríaca de Economia, de cunho liberal, recomenda a ação humana como base para se buscar uma vida melhor. E assim recomendam todos aqueles que se identificam com a economia do bem-estar.
Enfatizando o ponto: há que se pensar numa nova economia, mais solidária, com uma face mais humana, com o coletivo predominando no lugar do individual. Caso contrário, a ganância, expressa na individualidade, vai continuar ganhando esse jogo e estabelecendo, por primazia, sua conduta egoísta que em nada contribui para a prática da solidariedade.
Contra a economia-individual, a favor da economia-social-coletiva. Contra uma sociedade desigual, em prol de uma sociedade de iguais. É para isso (e por isso!) que devemos enveredar todos nossos esforços. Primeiramente conscientizando para mudar e, depois, mudando, para construir um mundo melhor, mais digno, mais justo, mais fraterno.


O autor:
(*) Economista, mestre pela USP em Integração da América Latina e professor universitário. Especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP).
Autor de “Conversando sobre Economia” (Ed. Alínea).

O PROGRESSO NA ECONOMIA NÃO ESTÁ EM AUMENTAR A RIQUEZA, MAS SIM EM DIMINUIR A POBREZA



O PROGRESSO NA ECONOMIA NÃO ESTÁ EM AUMENTAR A RIQUEZA, MAS SIM EM DIMINUIR A POBREZA

Marcus Eduardo de Oliveira


Nos dias de hoje, uma questão se coloca como crucial na vida do homem moderno: se há o interesse desse em continuar evoluindo, desfrutando de um ambiente mais saudável e fraterno para se viver, tal premissa somente terá sentido quando as gritantes desigualdades sociais e econômicas foram diminuídas substancialmente.
Conquanto, é a esse homem dos dias atuais que cabe a principal tarefa do momento, caso queira, de fato, tornar válida a condição necessária de se habitar um lugar melhor para a continuidade da vida. Essa tarefa consiste em buscar alternativas para pôr fim a maior de todas as perversidades: a fome. Essa chaga atinge 1 bilhão de pessoas e ceifa 40 mil vidas todos os anos, em pontos diferentes da Terra. E por que cabe aos Homens essa tarefa de pôr fim a essa ignomínia? Simplesmente, porque são os Homens (no sentido amplo que esse termo carrega) os únicos responsáveis pela construção das sociedades que não param de apresentar mudanças. “Nós devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”, afirmou Gandhi.
E a Economia – enquanto ciência social que também estudo o comportamento do homem moderno – pode ser o começo dessa mudança. Em especial no que toca ao uso do cabedal teórico da economia, uma situação específica precisa ser definida, uma vez que um falso argumento, desde as obras que marcam o início dessa disciplina, insiste em permanecer e se afirmar como válida: não é aumentando a riqueza daqueles que já auferem elevados ganhos que se conseguirá diminuir a pobreza, a miséria e a fome daqueles que tanto carecem de ajuda.
Em outras palavras, essa premissa ressalta que não se pode pensar de forma antecipada nos caminhos que conduzem ao aumento da riqueza, se antes persistirem os modos de se fazer política pública que continue ignorando as possibilidades de se buscar a redução dos índices vexatórios de pobreza em escala mundial. A pobreza está muito próxima de todos nós. Os pobres e a pobreza (relativa e absoluta) estão em todos os cantos. Vejamos essa questão especificamente em termos de América Latina.

Onde estão e quantos são os pobres na América Latina
De acordo com relatório divulgado pelo ONU-Habitat (Programa de Assentamentos Humanos, da ONU) o Brasil é o país mais desigual da América Latina, onde os 10% mais ricos concentram 50,6% da renda. Na outra ponta, os 10% mais pobres ficam com apenas 0,8% da riqueza brasileira. O problema da má distribuição de renda afeta a América Latina como um todo, conclui o relatório. Ainda de acordo com esse documento, os 20% latino-americanos mais ricos concentram 56,9% da riqueza da região. Os 20% mais pobres, por sua vez, recebem apenas 3,5% da renda, o que faz da América Latina a região mais desigual do mundo. "O país com menor desigualdade de renda na América Latina é mais desigual do que qualquer país da OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico] e inclusive do que qualquer país do Leste Europeu" atesta o relatório.
O México é o segundo país mais desigual da América Latina, já que os 10% mais ricos da população recebem 42,2% da renda, enquanto os 10% mais pobres ficam com apenas 1,3%. Na Argentina, situada em terceiro lugar, 41,7% da renda está concentrada nas mãos dos 10% mais ricos, enquanto os 10% mais pobres têm apenas 1,1%. A Venezuela é o quarto país mais desigual da região, já que os 10% mais ricos têm 36,8% da renda e os 30% mais ricos controlam 65,1% dos recursos, enquanto os 10% mais pobres sobrevivem com apenas 0,9% da riqueza.
No caso da Colômbia, 49,1% da renda do país vai parar no bolso dos 10% mais ricos, contra 0,9% que fica do lado dos mais pobres. No Chile, 42,5% da renda local está concentrada nas mãos dos 10% mais ricos, enquanto 1,5% dos recursos vai para os mais pobres. Os países menos desiguais da região são Nicarágua, Panamá e Paraguai. Mesmo assim, nos três, a disparidade entre ricos e pobres continua abissal, já que os 10% mais ricos consomem mais de 40% dos recursos. Também consta no referido relatório que a urbanização não contribuiu para diminuir a pobreza na América Latina, já que o número de pessoas na miséria aumentou muito nas últimas décadas, basicamente a partir de 1970. Justamente em 1970, havia 41 milhões de pobres nas cidades da região da América Latina - 25% da população de 40 anos passados. Em 2007, a pobreza aumentou em 4%, considerando os dados de 1970: os pobres em áreas urbanas eram 127 milhões, portanto, 29% da população urbana.
No entanto, a “ONU-Habitat” alertou no relatório que "é nas cidades menores e, certamente, nas áreas rurais da América Latina, onde a população é mais pobre". Assim, a pobreza rural no Brasil alcança 50,1% da população; na Colômbia, 50,5%; no México, 40,1%; e, no Peru, 69,3%. A grande exceção é o Chile, com um índice de pobreza rural de 12,3% - número inferior inclusive ao das zonas urbanas.
Mais números dessa desigualdade: em 2004, cerca de 980 milhões de pessoas viviam com menos de um dólar por dia nos países em desenvolvimento. Dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) mostram que as taxas de mortalidade de bebês e crianças até cinco anos caíram em todo o mundo, mas o progresso foi muito desigual. Quase 11 milhões de crianças ao redor do mundo ainda morrem todos os anos antes de completar cinco anos. A maioria dessas mortes decorre por doenças evitáveis ou tratáveis: doenças respiratórias, diarréia, sarampo e malária.
O fato mais triste é que todos os dias 6,8 mil pessoas são infectadas pelo vírus HIV e 5,7 mil morrem em conseqüência da AIDS - a maioria por falta de prevenção e tratamento. De um tratamento, por sinal, que não é muito custoso. No entanto, os países pobres (os que mais sofrem as chagas da desigualdade) continuam pagando a cada dia o equivalente a US$ 100 milhões em serviço da dívida para os países ricos.
Conquanto, uma vez especificado onde estão e quantos são os pobres de nossa região, cabe retomar ao ponto em que anteriormente focalizamos a ciência econômica como parâmetro de análise um tanto quanto inconsistente no ato de atenuar os focos dessa desigualdade. Há um conceito dominante nas ciências econômicas de que riqueza e pobreza devam ser medidas pelo mesmo padrão, ou seja: o produto interno bruto (PIB) e sua conseqüente renda per capita.
É fundamental, contudo, que se tenha a lucidez conceitual para verificar que crescimento econômico (elevação do PIB) não significa queda da pobreza, até mesmo porque o PIB, visto como forma de medir riqueza trata-se, na essência, de um ledo engano.
Uma vez mais queremos contextualizar aqui a idéia que dá conta que crescimento da economia (elevação do produto) não representa (nunca representou) melhora na qualidade de vida das pessoas. É certo que não se acaba com a pobreza crônica gerando apenas empregos e fazendo com que o produto interno se expanda. Pobreza, entendida nos termos da depreciação de vidas humanas, se acaba, por exemplo, a partir da melhoria substancial nos sistemas de saúde pública. Acaba-se com a pobreza crônica quando a educação é tratada com qualidade, para, assim, poder-se oferecer educação com qualidade. Índices de pobreza (tanto crônica quanto relativa) reduzem-se melhorando, substancialmente, as condições de higiene e alimentando melhor os mais pobres; portanto, atenuar os índices de pobreza passa, indiscutivelmente, ao proporcionar aos mais necessitados as necessárias condições básicas que conduz, na prática, ao bem-estar social.
Dito isso, faz-se producente afirmar que o padrão de crescimento econômico das sociedades modernas não pode ser praticado nos termos que ora temos presenciado, ou seja, sob uma plataforma socialmente perversa. O espetacular crescimento econômico das economias modernas a partir de 1945 tem se dado, por exemplo, sobre o conflito com o meio ambiente e num total desrespeito às condições de vida. O progresso técnico-econômico verificado desde o início do forte crescimento das economias não foi acompanhado de crescimento social. É preciso, todavia, lançar-se um novo olhar para além desse crescimento. Essa atitude, de fazer crescer a economia sem a contrapartida de avançar a questão social, apenas contribui, sobremaneira, para o total desrespeito ao indivíduo, que se vê privado de obter condições dignas de trabalho e, por conseqüência, se vê cada vez mais longe do acesso às possibilidades de melhoria do seu padrão de vida. Toda vez que esse indivíduo é colocado à margem dos benefícios, mais distante fica do acesso aos bens necessários. Assim, a economia contribui apenas para obstaculizar uma melhora na vida daqueles que tanto carecem, ao passo que esse sistema econômico continua, a bel-prazer de alguns poucos ganhadores, privilegiando somente esses que se encontram nos patamares mais elevados da escala social. O crescimento da riqueza, portanto, não faz gerar a diminuição da pobreza.
As palavras do economista indiano Amartya Sen são exemplares a esse respeito: “Não se deve olhar o progresso de uma economia verificando o aumento da riqueza dos que já são ricos, mas na diminuição da pobreza daqueles que são muito pobres”.

A saída pode estar na prática da economia solidária
Conquanto, se realmente desejamos ver edificada uma sociedade melhor do ponto de vista social, inequivocamente outro modelo econômico precisa ser posto à serviço das comunidades mais carentes. Esse outro modelo econômico pode ser a economia solidária.
O modelo de economia solidária que queremos ver ganhar dimensão respeita, antes de tudo, a geração presente, priorizando, valorizando e enaltecendo o ser humano, em lugar de centralizar esforços para a acumulação de capital. Esse novo modelo econômico, solidário e participativo, mais ético e menos mercantil, precisa emergir para assim criar todas as condições necessárias a fim de diminuir a abissal lacuna existente entre o modo de viver dos mais ricos em relação aos mais pobres.
Lembremos, nesse pormenor, que habitamos um mundo em que vinte por cento da Humanidade não hesita em gastar três dólares por dia num simples cappuccino; enquanto, no outro extremo da vida, quase 40% da população mundial “tenta” (sobre) viver com menos de dois dólares por dia. Habitamos um mundo em que para manter uma vaca em pé na Europa central são gastos quatro dólares por animal a cada dia.
No entanto, por não receber nem mesmo dois dólares (menos da metade que uma vaca “recebe” em forma de subsídio) por dia, 3 milhões de pessoas – pobres, famintas e enfermas - morrem por causa de malária todos os anos na África subsaariana.
Não é por outra razão então que a cada semana, a pobreza e suas “conseqüências” matam, somente no continente africano, o mesmo número de pessoas que foram dizimadas pelo tsunami que atingiu o sudeste asiático alguns anos atrás.
Ou mudamos radicalmente essa história perversa ou continuaremos a andar na contramão das condições que estabelecem as relações que moldam a vida. A vida não nos foi dada para que tratássemo-la com menoscabo. A vida nos foi oferecida para promovermos o bem-viver e o viver bem. Cabe a nós – a todos nós – que escapamos da pobreza e da fome, juntarmos forças para a construção da paz duradoura num mundo em que, pelo menos, não haja a sandice da fome, uma vez que os alimentos são produzidos em excesso e, em muitos lugares, chegam até mesmo a estragar e apodrecer em silos. Ao final, desejamos aqui reiterar as palavras de Frei Betto: “Ter escapado da pobreza não é prêmio, é responsabilidade para com aqueles que não tiveram igual sorte”.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor universitário.
Mestre pela Universidade de São Paulo (USP) em Integração da América Latina, é especialista em Política Internacional (FESP). Possui curso de especialização pela Universidade de La Habana (Cuba).
Autor dos livros “Conversando sobre Economia” e “Pensando como um Economista”. Articulista do Portal Ecodebate, do site “OEconomista” e da Agência Zwela de Notícias (Angola).
Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

O PIB VAI BEM, MAS O POVO VAI MAL



Notícias de LISARB: um país às avessas
Quando o PIB vai bem, mas o povo vai mal

Marcus Eduardo de Oliveira


Introdução
Esta é uma triste história recheada com números e indicadores sócio-econômicos reais de um país chamado “LISARB” (coincidentemente significa Brasil, ao contrário!) onde quase tudo, principalmente em termos econômicos e sociais, ocorre fora do senso comum, longe dos padrões tidos como “normais e desejáveis”; como se esse país fizesse tudo (ou quase tudo) às avessas, contrariando, assim, a boa conduta em matéria econômica.
De contradições em contradições, esse país realmente parece andar na contramão. Tem potencial para crescer, mas não cresce. Possui a quinta maior força de trabalho do mundo e um mercado doméstico dinâmico e em expansão. Atente-se, para tanto, ao fato de que o grau de abertura da economia desse país é de 23% - soma das exportações mais as importações em relação ao PIB (Produto Interno Bruto)-, o que significa que o mercado interno é responsável por 77% do que é consumido em LISARB. No entanto, algo parece puxar para baixo a expansão econômica de um país que nos últimos 20 anos teve como base uma política exportadora, em detrimento desse mercado doméstico potencialmente favorável ao crescimento econômico.

As contradições
Nesse curioso país, as contradições econômicas são, no mínimo, intrigantes e, algumas, verdadeiras aberrações: poucos ganham muito e muitos, nada ganham. A renda é fortemente concentrada nas mãos de uma minoria. Aqueles que compõem o 1% mais rico da população de LISARB controlam aproximadamente 10% do PIB nacional, a mesma proporção que é controlada pelos 50% mais pobres da população.
Esse país tem uma massa de pobres e miseráveis (mais de 40 milhões que ganham menos do que o equivalente a dois dólares por dia), mas fabrica e exporta, por exemplo, aviões de uso militar e civil. Por sinal, LISARB possui a terceira maior fabricante de aviões do mundo (com mais de 5 mil aeronaves produzidas), perdendo apenas para a Airbus e a Boeing. Tem um mercado interno grande e potencialmente significativo, mas prefere atender ao mercado externo. Os pobres desse país – mais de 40 milhões – passam fome, embora nas terras agricultáveis disponíveis (mais de 600 milhões de hectares ao todo), os governantes nunca tenham feito com seriedade uma reforma agrária ao longo dos mais de 500 anos de história que esse país possui. Embora haja fome em LISARB, a política econômica está (e ao que parece sempre esteve) a serviço das exportações de alimentos e vitaminas, incluindo, por exemplo, pó de acerola (vitamina C) exportado ao Japão. É curioso observar que em apenas 100g (que contém 1790 mg de vitamina C) de acerola, a quantidade de vitamina C é cerca de 40 vezes maior do que da laranja. Três unidades de acerola (+ ou - 30g) é a necessidade diária de uma pessoa adulta, e apenas uma frutinha supre a necessidade de crianças de 1 a 12 anos. Entretanto, milhões de crianças de LISARB nessa faixa etária jamais colocaram na boca ao menos 10 mg desse suco.
A indústria de calçados, da melhor qualidade, exporta seus modelos para pés estrangeiros, mais os governantes de LISARB não enxergam que muitos meninos e meninas em situação de abandono nas ruas continuam a pisar descalços. A cirurgia plástica de LISARB, com renomados cirurgiões, é uma das melhores do mundo, a ponto de parte considerável da elite local "torrar" fortunas na tentativa de buscar uma estética perfeita, no entanto, os governantes não conseguem dar uma vida melhor aos que, depois de tanto trabalharem e produzirem para esse país carregam as marcas das rugas na face e são humilhados nas filas da Previdência Social atrás de migalhas concedidas em forma de aposentadoria
Dono do maior rebanho bovino comercial do mundo e um dos principais exportadores mundiais (para mais de 140 países) de carne bovina, LISARB consegue ter, ao mesmo tempo, uma massa incontável de habitantes que não sabe o que significa comer carne vermelha - nem a bovina, nem a suína e, muito menos, a carne branca, de frango e peixe. Muitas crianças e idosos desse país nunca tomaram um copo de suco de laranja (quem toma são as crianças e os idosos dos países árabes, para onde vai a exportação desse produto); no entanto, LISARB é responsável por 53% do suco produzido no mundo e por 80% das exportações dessa fruta. Assim também acontece com o maracujá (rico em vitamina do complexo B, em cálcio e fósforo) em que LISARB ocupa o posto de maior produtor mundial dessa fruta. Entretanto, cabe perguntar: dentre os mais de 40 milhões de pobres, quantos foram os que tomaram ou tomam suco de maracujá?

Os economistas de LISARB
Os economistas de plantão que trabalham (bem como os que já trabalharam em gestões anteriores) na Administração Federal – cuja capital federal é “AILISARB” (coincidentemente significa Brasília, ao contrário!) dizem que se o PIB crescer o povo, automaticamente, estará com a vida melhor. Os modelos de política econômica, seguindo esse receituário, parecem então disponibilizados unicamente apenas para “promover” o crescimento do produto interno, vendo nisso o caminho ideal para o progresso material dos mais necessitados. Dizem alguns desses economistas de LISARB que se houver maior exportação, maior será a entrada de recursos e, com isso, criar-se-á possibilidade de melhorar a vida de todos que hoje se localizam nos bolsões de pobreza espalhados por vários pontos do país.
LISARB realmente é um país contraditório. Freqüentemente, o presidente da República, de origem humilde e, portanto, conhecedor das dificuldades por que passam milhões de habitantes, em suas entrevistas costuma recomendar ao povo consumir um pouco mais, mas parece “esquecer” que o nível salarial médio (menos de 1.700 reais) é bem baixo e as taxas de juros (mais de 12% ao ano), que regulam os empréstimos no sistema bancário, ainda são as maiores do planeta.
Os economistas de LISARB, como que respeitando a lógica de que nesse país tudo (ou quase tudo) é praticado às avessas, ainda não aprenderam que devem subordinar a atividade econômica (o comportamento do mercado interno) e ensinar Economia (enquanto ciência) de maneira a subordiná-los (mercado e ensino universitário em Economia) aos objetivos sociais. Esses economistas não entenderam ainda que é a economia que deve atender a necessidade de cada cidadão, e não cada cidadão atender as necessidades do conjunto da economia. Alguns desses economistas, pós-graduados por universidades renomadas do exterior, “tecnicistas” em essência, aprenderam, desde as primeiras aulas em seus cursos, a copiar os modelos de consumo e produção que vigoram no mundo desenvolvido. No entanto, quando de volta a dura realidade de um país sem planejamento, esquecem que tais modelos não se reproduzem para a maioria local. Apenas se “encaixam” para os padrões de consumo de uma minoria que, assim, mimetiza, passo a passo, a atividade econômica do mundo desenvolvido e se satisfaz no consumo supérfluo. Não por acaso, LISARB está entre os dez maiores países consumidores de artigos de luxo do mundo. Apenas como exemplo, cumpre mencionar que esse país é o nono maior comprador de carros Ferrari e ostenta a terceira maior frota de aviões particulares do mundo e o quarto em iates de alto padrão.
Esses economistas que trouxeram o modelo de consumo existente no mundo desenvolvido, ainda não se deram conta de que em LISARB um terço das residências não tem água encanada, e milhões de pessoas não têm acesso à água potável; embora esse país tenha sido “agraciado” pelo Divino que ali concedeu as maiores bacias hidrográficas – o volume de água doce nesse país é o maior do planeta, além de possuir ainda imensa malha de rios e parte considerável da Amazônia. Entretanto, quase 70% de seus rios estão poluídos. Com a água da Amazônia Internacional LISARB detém 53% das águas da América do Sul - continente em que está localizado - e 13,8% do total de água do mundo.
Em LISARB, o discurso corrente entre os políticos é de que as crianças devem ser respeitadas e, acima de tudo, bem educadas, pois as mesmas converter-se-ão nas bases do futuro e somente uma boa e adequada educação dispensadas a elas será capaz de promover e assegurar um futuro promissor. No entanto, como quase tudo nesse país é praticado às avessas, mais de 50% dessas crianças com até dois anos encontram-se na linha da pobreza e 15 milhões delas estão fora da escola. Ainda em relação à educação, esses mesmos políticos que são muito bons em matéria de discurso e plataforma política, quando em campanha eleitoral, dizem, grosso modo, que a educação será a preocupação primeira de suas atividades parlamentares. Uma vez sentados nas cadeiras do poder fecham os olhos e viram as costas para essa questão e consentem com números vexatórios que apontam para o seguinte: aproximadamente 45% dos pobres em LISARB têm um nível de escolaridade entre 0 e 4 anos, enquanto 33% dos pobres têm escolaridade entre 5 e 8 anos. Setenta e sete por cento dos pobres nesse país tem escolaridade abaixo de 8 anos. Entre o discurso e a prática o que realmente prevalece é o abismo existente entre intenção e ação.
Esse país tem um elevado índice de vacinação infantil contra a poliomielite – idêntico ao da Itália – mas em termos de índice de mortalidade infantil (24,9 por mil nascimentos) é pior que Honduras.
A produção de automóveis em LISARB (mais de 1,7 milhão, em 2008) já ultrapassou a França e atingiu o sexto lugar no ranking dos maiores produtores, atrás somente de Coréia do Sul, Alemanha, EUA, China e Japão. A previsão é que em 2010 o quarto lugar nesse ranking seja alcançado. Entretanto, nesse país não se consegue trafegar com segurança nas principais avenidas, quer em face do constante trânsito ou mesmo do perigo de se parar num semáforo a qualquer hora do dia. Fora isso, a produção desses carros não sai com aparelhos redutores de poluição. Como quase tudo nesse país é tratado às avessas, a alta concentração de monóxido de carbono expelido durante a combustão de gasolina pouco importa. O que vale mesmo, na ótica perversa do lucro rápido e fácil, é aumentar a produção de veículos automotores.
Apesar possuir 8000 quilômetros de costas litorâneas e de ter clima tropical, o turismo em LISARB não é capaz de atrair mais de 9 milhões de pessoas por ano. Como nesse país quase tudo é praticado às avessas, LISARB não explora o turismo, mas sim os turistas. O que tem crescido em LISARB é o turismo sexual com programas já catalogados, antecipadamente, via internet por europeus, basicamente espanhóis, italianos e portugueses que saem de seus países com “roteiros sexuais” definidos - desde o aeroporto ao hotel, são “agenciados” pelos patrocinadores de programas sexuais.
A tributação nesse país é outro caso de “interessante” contradição: a carga tributária em 2008 chegou a 36,5% do PIB, semelhante, em termos percentuais, a dos EUA, Inglaterra e Bélgica, por exemplo. Isso significa dizer que cada habitante pagou aproximadamente R$ 5.572 em impostos, em 2008 (pelos valores arrecadados nesse ano). Em média, os pobres de LISARB pagam 45% a mais de impostos do que os ricos. No entanto, aqui também ocorre a “lógica” às avessas: os serviços públicos não são condizentes com esse pagamento, diferentemente do que ocorre em países cuja carga tributária é idêntica em termos percentuais a de LISARB.

A imagem de que a economia vai bem
O que parece importar mesmo nesse país é passar uma imagem de que a economia vai bem e, por conseguinte, o PIB, em breve, estará entre as maiores economias do mundo. Os economistas já disseram que até 2030 o PIB aumentará mais de 150% colocando LISARB entre as cinco maiores economias do mundo. Projetando o futuro, em termos de comportamento do produto interno bruto, esses economistas não esquecem o passado. LISARB chegou a ter um PIB entre as oito maiores economias do mundo (década de 80, do século XX). Com seus rebuscados programas e modelos econômicos, os economistas de LISARB, no passado, fizeram a economia crescer, mas não conseguiram reduzir a pobreza, até mesmo porque essa renda, de fato, cresceu, mas, para cima (de forma concentrada); não cresceu para os lados (não foi distribuída). Esses “modelos econômicos” usados a exaustão em LISARB durante décadas e décadas chegou até mesmo a produzir um falso “milagre econômico” em que esse “amaldiçoado” PIB cresceu 12% ao ano, no pico do “milagre”; no entanto, a vida dos mais humildes não avançou um centímetro em termos de melhoria social. Como que respeitando a temática corrente de que quase tudo “funciona” às avessas, LISARB soube bem como aumentar a riqueza (esse país é consideravelmente rico), mas foi incompetente em acabar com a pobreza (convive com uma massa de excluídos).
O que mais se faz em LISARB em matéria de economia é enaltecer alguns indicadores econômicos que apontam para um “pseudo” sucesso, escondendo, de fato, o lado real e perverso de uma sociedade que congrega uma das maiores desigualdades sociais, capaz de ostentar a vexatória marca de um dos piores países em termos de distribuição de renda e riqueza (os meios de produção de riqueza estão concentrados nas mãos de 6% da população). De cada 20 habitantes de LISARB, apenas um é dono de alguma propriedade geradora de renda: empresa, imóvel, propriedade rural ou até mesmo conhecimento.
Em LISARB os principais “modelos de desenvolvimento econômico” implantados desde que o país avançou em termos de industrialização, a partir dos anos 30, do século passado, definiram a riqueza material como objetivo central, quando deveriam desenvolver as competências e as capacidades individuais dos que mais necessitam de ajuda.
Desse modo, a somatória dessas contradições leva-nos, portanto, a considerar que em LISARB o próprio conceito de qualidade de vida encontra-se totalmente às avessas. A riqueza material não pode ser estabelecida como elemento primordial daquilo que se convenciou chamar de qualidade de vida. Qualidade de vida envolve uma série de fatores como uma boa educação, acesso à saúde, as refeições regulares todo dia, à água potável, a rede de esgoto, à proteção a todas as minorias. Nesse pormenor, não basta fazer crescer a produção de bens e serviços, é necessário um adequado e equânime acesso a essas conquistas básicas a que todos têm direito e, em especial, que sejam patrocinadas pelo governo, e que esse, por sua vez, saiba investir. Em valores absolutos o governo de LISARB gasta 40% do PIB e investe apenas 0,6%. Das despesas do governo, 12% do PIB são gastos previdenciários e 8% do PIB consumidos com juros. Sob o prisma de gastos per capita, os números ficam ainda mais assustadores: o governo gasta R$ 8 mil por ano com benefícios previdenciários, R$ 2 mil por ano com saúde, alimentação e segurança; e investe apenas R$ 100,00 por ano.
Uma vez mais se pretende afirmar aqui que só o crescimento não elimina as desigualdades. A prova disso é que durante oito décadas (de 1900 a 1980) LISARB foi a economia que mais cresceu no mundo em termos de PIB (a renda per capita desse país nesse período, em taxa média anual foi de 3,04%, enquanto o mundo crescia 1,92%). No entanto, nesse mesmo período, grande parte da população passou a “freqüentar” as linhas de pobreza e indigência. Desse modo, parece correto afirmar que esse país não se desenvolveu no sentido lato que esse termo carrega. O que houve em LISARB não foi desenvolvimento, mas apenas modernização. Uma modernização de toda estrutura produtiva que refletiu em taxas de crescimento do produto que pouco, ou quase nada, representou em termos de desenvolvimento econômico e social, entendido que esse último conceito representa qualidade de vida e acesso a serviços básicos. Dessa forma, de uma vez por todas entendamos que PIB nunca mediu e nunca medirá riqueza e prosperidade. Assim, não adianta o PIB ir bem, se o povo vai mal. É preciso trocar a riqueza material (que é algo superficial), pela riqueza social (que é algo consolidado), principalmente num país com o histórico social de LISARB.
Na esteira do crescimento do produto interno invejável que aconteceu nas oito primeiras décadas do século passado, cumpre apontar que LISARB saiu de uma condição agrário-exportadora no início do século XX para uma situação majoritariamente industrial-urbana em fins do mesmo século. Ao final desse período (portanto, próximo do ano 2000), calculava-se que em LISARB havia mais de 4 milhões de pessoas trabalhando apenas em troca de comida no campo, em minas e como empregados domésticos nas grandes cidades. Isso apenas corrobora o que dissemos antes: LISARB não fez a lição completa - fez o PIB crescer, mas não transformou esse crescimento em melhora de vida para os mais necessitados. Em LISARB não souberam “aproveitar” o forte incremento industrial que se localizou nas grandes cidades; prometeram que haveria nessas localidades empregos para todos, e isso não aconteceu. Prometeram justiça social; em lugar dessa apareceu à desigualdade social. Promoveu-se um forte deslocamento do campo em direção às cidades com a promessa de que a vida melhoraria para os muitos braços que ali encontrariam empregos, mas isso não foi para todos: em lugar dos empregos qualificados, grassou o subemprego. As conseqüências derivadas desse processo foi uma forte aglomeração urbana que empurrou, por conseqüência, para um crescimento “deformado” da periferia, à medida que os centros urbanos foram “se esgotando” e inchando, como resposta ao êxodo rural. Semelhante situação foi verificada nos salários pagos nas cidades naqueles parcos e desqualificados empregos gerados à custa de um “crescimento” defeituoso. O excesso de mão de obra empurrou ladeira abaixo o nível médio salarial, contribuindo para a queda do poder de compra dos que ali se encontravam. A desigualdade econômica e social advinda desse processo explodiu e LISARB viu surgir os bolsões de pobreza. Em pleno desenrolar do século XXI, vejamos alguns indicadores da desigualdade econômica existentes em LISARB que melhor retratam tal situação.

Alguns indicadores da desigualdade econômica em LISARB
De acordo com o principal Instituto de Pesquisa Econômica Aplicado de LISARB, os indicadores de desigualdade econômica mais recente são esses:
• Há 56,9 milhões de pobres em LISARB, sendo 24,7 milhões de pessoas na extrema pobreza.
Quem são essas pessoas?
a) Crianças (mais de 50% das crianças com até 2 anos de idade são pobres);
b) Afrodescendentes (representam 45% da população total, mas 63% dos pobres e 70% dos indigentes);
c) Nordestinos ou moradores das regiões metropolitanas do Sudeste;
d) Membros de famílias chefiadas por adultos de baixa escolaridade;
e) Membros de famílias chefiadas por trabalhadores autônomos ou por empregados sem carteira assinada.
• A renda per capita mensal necessária para que um indivíduo faça parte dos 10% mais ricos do país é de R$ 571, ou seja, uma família com 4 pessoas que tenha renda familiar de R$ 2.284 pertence ao grupo dos 10% da população mais rica.
• 83% dos chefes de famílias que se encontram em situação de extrema pobreza no país trabalham por conta própria ou são trabalhadores sem carteira.
• 54% dos chefes de famílias que se encontram em situação de pobreza trabalham por conta própria ou são trabalhadores.
• Nos últimos 25 anos (desde meados da década de 80), cerca de 150 mil jovens deixam anualmente o LISARB em busca de uma oportunidade no exterior.
• A cada dois desempregados em LISARB, um tem menos de 25 anos de idade, 4 milhões de jovens declaram não estudar, não trabalhar e não procurar emprego.

Considerações finais
Qualquer semelhança entre LISARB e o país que você, meu estimado leitor vive, NÃO é mera coincidência, afinal, estamos nos referindo ao mesmo país.
No país das contradições, onde quase tudo está às avessas, salta aos olhos presenciar uma economia rica cercada por uma crescente população carente. LISARB é um país rico, com muitos pobres e carentes. Tão carente que para 25% da população mais pobre até o próprio aspecto físico é diferenciado em relação aos ricos. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Família (POF), uma criança pobre de LISARB que hoje conta seus dois ou três anos de vida quando completar 19 anos será 9,7 quilos mais magros e 5,9 centímetros mais baixo do que um rico da mesma idade, fruto da desnutrição e da falta de cuidados de saúde básica a que está submetida. Assim também são os “homens-gabirus” da região Nordeste, cuja estatura não passa de 1,55 m; não por herança genética, mas por causa da fome. Da implacável fome que degenera corpos. O corpo desses “homens-gabirus”, por vezes, apresenta braços, dedos e pernas atrofiados e a cabeça, de tão grande, destoa de todo o resto. A expectativa de vida desses nanicos maltratados pela ignomínia da fome é curtíssima: menos de 50 anos, em média. Isso tudo acontecendo num país rico e tido como próspero que, segundo estimativas, terá um PIB entre os cinco ou seis maiores do planeta.
Se de um lado há fome que maltrata os corpos esteticamente, do outro lado da moeda, em LISARB se desperdiça de 30 a 35% de comida boa. Isso mesmo: de 30 a 35% da comida saudável vai parar no lixo. Somente em hortaliças equivale dizer que quase 37 quilos de alimentos por habitante são deixados nas latas de lixo. Alguns, por comerem além da conta, desperdiçam, em média, aproximadamente 500 gramas de alimentos dia após dia (são 180 quilos de comida por ano!).
Enquanto o mercado interno e “seus consumidores nanicos” são “abandonados” pelos agentes de uma economia destrutiva, o mercado externo continua a ser privilegiado pelo agente econômico maior: o governo. Em 29 de outubro de 2008, a Medida Provisória Nº 444, assinada pelo presidente de LISARB autorizou a doação para Cuba, Haiti, Honduras e Jamaica de quarenta e cinco mil toneladas de arroz beneficiado, duas mil toneladas de leite em pó e até quinhentos quilos de sementes de hortaliças.
Nesse país às avessas, até mesmo a possibilidade de se viver mais ou menos anos é gritante e depende, exclusivamente, do bolso de cada contribuinte. Os que têm acesso aos bons planos de saúde e freqüentam bons hospitais tendem a viver, no mínimo, dez ou mais anos em relação aqueles que freqüentam os hospitais públicos que se encontram entregues às mínguas pelo completo desatendimento daqueles que zelam pela saúde pública.
Enquanto LISARB continuar sendo um país às avessas, será difícil viver num país mais justo, fraterno e menos desigual.

O autor é economista, mestre pela USP e especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP), além de professor do Departamento de Economia da FAC-FITO.
É autor de “Conversando sobre Economia” (Ed. Alínea).