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8 de setembro de 2010

Em 2030...



EM 2030...

Marcus Eduardo de Oliveira (*)


No decorrer do século XXI, o Brasil ainda apresenta uma faceta de problemas econômicos e sociais típicos do século XIX. Essa marca arcaica, talvez fruto da tardia transição entre a sociedade agrária para a sociedade urbano-industrial, é verificada nos indicadores sócio-econômicos que apontam dedo em riste para a consolidação do que há de pior em termos de desigualdade: a pobreza extrema.
Pobreza essa marcada pela fome de 30 milhões de brasileiros largados à própria sorte, situados abaixo das linhas de pobreza e de indigência – dependendo dos ganhos diário, segundo critérios estabelecidos pelo Pnud-ONU.
A pobreza extrema – patologia típica dos subdesenvolvidos – é o sinal mais agudo da exclusão social que ganha contornos mais marcantes quando se pensa que a economia brasileira – pujante de um lado (o econômico), mas cambaleante, de outro (o social) – faz do crescimento econômico apenas moeda de troca para benefício de uns poucos, à medida que convive pacificamente com a concentração da renda, sem levar em conta que, esse crescimento, por si só, não resolve esse tipo de problema que, em nosso caso, é endêmico.
O que pode sim atenuar a miséria desse século XXI num Brasil de vastas terras ociosas, e também por isso, com fome e sem emprego no campo, característica aliás de 400 anos de latifúndio, são as conhecidas e esquecidas reformas estruturais que ainda não foram feitas, mas que, para o bem de um projeto de Nação, ainda sonhamos com a realização delas, sem que as deixemos cair no onírico.
As reformas? Primeiramente, a tributária (livrando o enorme peso sobre as costas dos que ganham baixos salários, o que também impossibilita consolidar uma estrutura progressiva. Hoje, quem ganha muito paga pouco e quem ganha pouco paga muito); a social (que ainda não consolidou o estado de bem-estar social, em que pese avanços assegurados pela Constituição de 1988), e, por fim, a agrária (que mantém intacta a estrutura fundiária, cuja característica é ser muito concentrada). Fazer essas reformas e amenizar a chaga social da desigualdade é o desafio maior a ser enfrentado por quem se sentará na cadeira da presidência da República, a partir do primeiro dia de janeiro de 2011.
Soma-se a esses o surgimento de outro grande desafio: preparar desde o presente momento a estrutura econômica para enfrentar a escassez de mão-de-obra que acontecerá daqui a 20 anos. Isso mesmo: o Brasil que sempre teve mão-de-obra abundante para os serviços mais simples sofrerá uma reversão. Os serviços considerados mais simples, cuja baixa remuneração dispensa qualificação mais apurada, serão diminutos em 2030. Isso decorre de uma situação inusitada: de acordo com os demógrafos haverá uma considerável redução da nação. Daqui há 20 anos, portanto, em 2030, o número de nascidos será bem menor do que o número de mortes.
A estimativa é que teremos uma população em 2030 de 207 milhões, ante os 240 milhões que estavam previstos por estudos realizados pela demografia no início dos anos 1990
Isso se relaciona ao processo de envelhecimento da nação e, por conseguinte, aumenta a dificuldade na formação e capacitação de força nova no mercado de trabalho. Lembremos, nesse pormenor, que em 2008 havia no Brasil 3 milhões de pessoas com 80 anos ou mais; em 2030, confirmando as estimativas, esse contingente será superior a 20 milhões. Ou seja, em 22 anos ocorrerá um salto significativo. Até 2025, o Brasil, segundo a ONU, ocupará o sexto lugar no mundo entre os países com o maior número de pessoas idosas.
No que toca ao perfil da população, em especial ao envelhecimento populacional, hoje mesmo já não há política pública social adequada para lidar com esse fato. Faltam as mais singelas condições de acessibilidade aos idosos. Não há políticas focadas para a sociabilidade mínima que se exige num país que pretende ser chamado de “país sério”. Cabe também às ciências econômicas atentar para o estudo desse fato. Metodologicamente já há estudos interessados nessa perspectiva, chamando essa área do conhecimento de “Economia da Longevidade”.
Conquanto, se hoje as políticas desenhadas pela economia da longevidade são ainda incipientes, espera-se que numa situação onde teremos mais idosos, como será o caso em 2030, vários problemas estejam amenizados.
É desnecessário salientar que o tamanho de uma economia, com todas suas necessidades e potencialidades, está diretamente relacionada ao tamanho e ao perfil de sua população. Cabe lembrar, todavia, que, segundo projeções, em 2030 o Brasil estará entre as oito maiores economias do mundo, acumulando um PIB de US$ 2,5 trilhões. O PIB, de hoje até lá, crescerá 150%, apontando um crescimento médio de 4% ao ano. Seremos, em 2030, o quinto maior mercado consumidor do mundo – hoje ocupamos a oitava posição. Portanto, parece-nos que teremos todas as condições de bem atender essa situação quando lá chegarmos. Enquanto nação, a nossa concepção sempre foi a de cultuar a juventude. É hora agora de pensarmos no “clube da terceira idade” e propor a esses uma sociabilidade mínima, com respeito aos cabelos brancos que ajudaram a consolidar esse projeto de nação.
Márcio Pochmann, em recente entrevista, aponta bem essa problemática: “Um país com uma sociabilidade mínima exigiria centros de entretenimento, de lazer, de cultura de grande envergadura. Hoje, infelizmente, o nosso centro de integração é o shopping-center. Isso aí não é integração alguma, isso aí é mercantilização do tempo livre”.
Como podemos notar, os desafios continuam presentes, entra governo, sai governo. Resta-nos esperar e fazer votos que o próximo mandatário (ou a próxima mandatária) se sensibilize, de fato, em relação a isso e, desde o primeiro dia de trabalho, comece a desenhar políticas públicas para reverter essa situação. O tempo passa rápido. É hora de agir! 2030 está logo aí!


(*) Economista brasileiro, professor de economia e especialista em Política Internacional. Articulista dos sites “O Economista”, “Portal EcoDebate”, da Agência Zwela de Notícias (Angola) e colaborador do “Diário Liberdade”, da Galiza (Europa).
Autor dos livros “Conversando sobre Economia”, “Pensando como um Economista” e “Provocações Econômicas” (no prelo).
Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br
http://twitter.com/marcuseduoliv
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